25% no aço, é ferro
Aprenda com o Saci, Trump, porque quem vive de dar rasteira, ora cai
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O mundo inteiro sabe que quem fala demais dá bom dia a cavalo. Isso quando o cavalo está de bom humor. Todos sabem também que malandro além da justa medida sempre se atrapalha. Em tempo, o mal do malandro é achar que só a mãe dele fez filho esperto. Como sou besta, sigo a máxima do presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Luiz Roberto Barroso, o togado que quebra o coco, mas não arrebenta a sapucaia. Simplória, abrangente e atualíssima, a tese barrosiana é de que malandro é malandro, mané é mané. Ele não disse, mas eu complemento: um bom malandro se faz de mané.
Fecho com sua excelência de olhos vendados e mãos amarradas. Entre os metidos a eloquentes, o mais nocivo de todos é o falador boquirroto e compulsivo, considerado pela medicina moderna como ladrão do tempo alheio. Nos casos mais graves, a recomendação psiquiátrica é simples e normalmente sem margem de erro: Quando um falador fala muito, a língua acaba coçando. Se você não der ouvidos, ele acaba se cansando. Como o silêncio é uma voz que incomoda os tagarelas, sugiro que façamos como os pensadores antigos.
Os modernos não pensam diferente. Para Dannyel Thomaz, o ideal é que consigamos dar o palco que o linguarudo deseja. Afinal, se é para perder tempo com ele, que a perda seja com sonoras gargalhadas. Nessa quadra da vida, tivemos e temos tipos que achavam e acham que, fora eles, todos são otários. No Brasil recente, o Jair de todas as mazelas se elegeu prometendo – às vezes jurando – que acabaria com tudo que fosse ruim para o Brasil. Negacionista extremado, sequer conseguiu conter a mortalidade decorrente do descaso com a Covid-19.
O resultado prático é que a única coisa ruim expurgada do país – boa para a maioria da população – foi ele mesmo. Teve de engolir o que regurgitou excessivamente. Do lado oposto, o malandro supostamente otário que todos imaginavam aposentado surpreendeu o povão ao anunciar que estava em férias. Talvez ele não permaneça em 2026, mas mostrou que o “inteligente” fica quieto, enquanto o falador perde a língua. O malandro acabou perdendo muito mais do que a língua. Perdeu a chance de disputar novamente o que deixou escapar das duas mãos.
Como o vento que venta cá também venta lá, do outro lado do oceano a situação é bem parecida. Assessorado pela divindade aérea Elon Musk, mister Donald Trump brigou com parceiros econômicos, baniu do “seu” Estados Unidos e jurou de morte as importações de países até então amigos. Base principal de sua reeleição foi a promessa a seus enlouquecidos seguidores de anexar o Canadá, o México, a Groenlândia e a Faixa de Gaza, além de emparedar a Europa e o Brasil. Até agora, os fanáticos estão ao Deus dará. No máximo, conquistaram o minério da Ucrânia, a subserviência de Javier Milei e de Netanyahu e a bajulação interesseira de Vladimir Putin.
Como contrapartida do falatório satânico e nada cartesiano do malandro agulha, o quase ex-dono do mundo vem enfrentando percalços inimagináveis para quem se achava o segundo na hierarquia divina. Menos de dois meses após tomar assento na principal cadeira da Casa Branca, Trump vive assombrado com as turbulências econômicas, com o risco de paralisia do serviço público por falta de orçamento e, principalmente, com a possibilidade real de uma recessão. É por isso que cada vez mais compartilho da tese do Maternal I, segundo a qual malandro que é malandro não abusa da sorte. Os que abusaram se perderam na estrada ou ficaram pelo caminho.
Malandro é o saci, que não dá rasteira em ninguém para não cair. E a taxação de 25% no aço transporta à velha história de quem com ferro fere, com ferro será ferido.
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Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras