Ceilândia
Aprígio, brigão, nocauteado pela esposa Ritinha
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emBrigão mesmo era aquele menino, que desde sempre dava socos e pontapés em tudo. Sua mãe, ainda grávida, já não aguentava carregar o filho na barriga, que chutava, socava a todo instante. No entanto, o parto, que não foi dos mais fáceis, foi um alívio para a mãe do Aprígio.
Nasceu rechonchudo, mas, depois de tantas brigas durante os tempos de creche, escola e, principalmente, na rua onde morava, Aprígio foi perdendo as gorduras. Até as carnes, que não eram muitas, transformaram aquele jovem
em mais um dos inúmeros magricelas da Ceilândia.
A mãe, preocupada com o temperamento explosivo do filho, foi convencida por um vizinho a colocar o menino numa aula de artes marciais. Seria bom para controlar o pavio curto do Aprígio, garantiu o homem.
Do judô foi pro caratê, depois deu uns pulos pela capoeira, de onde rumou para o kung fu e, finalmente, chegou ao jiu-jitsu. Todavia, o conselho do amigo de sua mãe pareceu ter efeito contrário ao esperado. É que o Aprígio, quanto mais aprendia a desferir golpes, mais sentia vontade de brigar na rua.
Não que procurasse confusão, mas parecia incapaz de resistir a qualquer provocação.
Pois é, depois de tantas batalhas nas ruas do seu bairro, o rapaz ganhou fama de invencível. Tanto é que a Ritinha, uma das beldades da região, se engraçou para o seu lado. Não tardou, os dois começaram a namorar, um namoro sério, tão sério que deu em casamento alguns anos depois.
Tiveram até um filho, o pequeno Aprígio Júnior, o Juninho. Alguns meses antes do Juninho completar três anos, Aprígio quis porque quis introduzir o herdeiro no mundo das lutas. Pra quê? O menino chorava sem parar ao menor tapa que levava dos coleguinhas durante os treinos na academia.
Aprígio tentou insistir na formação de guerreiro do Juninho, mas Ritinha, para quem aquilo tudo já havia se tornado enfadonho, barrou as pretensões do marido.
A relação do casal, pelos próximos anos, foi cheia de altos e baixos, até que a mulher deu o definitivo basta naquilo tudo. Aprígio pegou aquele cartão vermelho recebido e, com o rabo entre as pernas, foi morar num quarto e sala
no outro lado da cidade. Não tardou, recebeu a visita de um amigo, que havia ido consolá-lo.
– Aprígio, sempre pensei que vocês formassem o casal perfeito.
– Eu também pensei, mas a Ritinha me expulsou de casa.
– Mas por que ela fez isso?
– Foi logo depois que fomos a uma boate. Ela havia ido buscar uma bebida no balcão, quando dois caras se aproximaram dela. Eles começaram a paquerar a Ritinha. Fui até lá e falei para eles saírem de perto, pois do
contrário eu iria estragar a noite deles.
– E daí?
– Daí que os caras entenderam o recado e pediram desculpa, pois não sabiam que ela estava acompanhada. Já deram as costas e foram saindo.
– Ah, que bom que tudo ficou resolvido. Mas ela brigou com você por causa disso?
– Não. Foi porque eu não aguentei e pulei no pescoço dos caras e sobrou pontapé pra todo lado.
– Aprígio, mas você precisa se controlar. Tem que mudar esse seu gênio!
– Sim, eu sei. Isso já faz muito tempo, eu me arrependo demais disso. Hoje sou um novo homem, muito mais calmo.
– Ah, tá! Quando foi isso?
– Na semana passada.