O bom brasileiro
Aqui é tudo dentro do normal, respeitada a Lei do Gérson
Publicado
emDescaso, preguiça ou negligência? Vejamos.
“Não tô nem aí”, “deixa pra lá”; “tudo bem” são exclamações de uso constante na vida do brasileiro. Todos nós sabemos (e fazemos parte disso) que para o “bom brasileiro” tanto faz “oito ou oitenta”.
É comum vermos colegas de escritório usando tesoura para extrair grampos de papéis (quando não sacrificam as próprias unhas), apesar de disporem do instrumento adequado a dois palmos do seu nariz.
Frequentemente, vejo colegas dando verdadeiros sopapos com o carimbo sobre a almofada, tudo isso só de preguiça de ir ao almoxarifado e apanhar uma almofada nova.
Já presenciei situações em que um colega que teve esgotada a bobina de sua calculadora, se aproximou de outro e pediu-lhe uma emprestada. Diante da resposta negativa, observou surpreso e ironicamente: “Mas não tens uma sobressalente?!”
Usar a caneta para múltiplos fins também faz parte da “criatividade nacional”: bater sobre a mesa, mordê-la, coçar o ouvido, trocar datas de carimbos e máquinas (girando a chamada margarida), enfim, até para escrever ela é usada. Mas, a essa altura, ela já não funciona mais direito. Aí o brasileiro se irrita, chama-a de porcaria, joga-a no lixo e apanha outra, que servirá para os mesmos usos.
Tudo no brasileiro é precário, até sua ideologia. Dizem as más línguas que certa vez um deles foi abordado com a seguinte oferta: ganharia um automóvel zero quilômetro se trocasse sua coloração ideológica, renegando todas as suas convicções pelas quais lutou e combateu até hoje e assumindo exatamente o oposto. Afirma-se que ele aceitou imediatamente.
Poderíamos enumerar infinitos itens que demonstram essa peculiaridade verde-amarela. Quando vai ao banheiro é outro drama: para começar, se tiver que pagar ele dá um “jeitinho” de isentar-se; uma vez lá dentro, ele joga papel no chão, molha tudo o que pode, escreve “poemas”, xinga a mãe de todo mundo, enfim, é aquele “escarcéu”.
No momento em que eu escrevia este texto tive a impressão de que alguém me chamava. Levantei o olhar para tentar identificar a origem do chamado, quando ouvi a seguinte frase: “Me abrace”.
“Me abrace”?! Foi isso que vocês leram mesmo? Mas, era isso mesmo. E a colega continuou: “Me abrace e pule comigo em cima deste perfurador, porque sozinha eu não consigo perfurar este calhamaço de papel”.