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Argentinos dão ponta-pé inicial e deixam Maduro à própria sorte

Após anos de apoio tácito ou ativo, Argentina é primeiro país a anunciar um olhar crítico sobre política de Nicolás Maduro. Na véspera de eleição-chave, outras alianças também mostram sinais de enfraquecimento.

Durante muito tempo, a comunidade internacional observou, basicamente imparcial, como, por mais de uma década e meio, o governo venezuelano estatizava a mídia, ocupava com governistas praticamente todos os cargos públicos-chave nos três Poderes e prendia oposicionistas promissores ou os excluía das eleições com acusações dúbias.

Até agora, só os Estados Unidos exerciam pressão palpável sobre Caracas, principalmente com a proibição do ingresso de certos políticos venezuelanos em seu território.

Contudo, pouco a pouco, outros governos latino-americanos e órgãos supranacionais, como a Organização dos Estados Americanos (OEA) e a União Europeia, foram acordando, afirma Juan Carlos Hidalgo, especialista do Instituto Cato, em Washington. Segundo ele, “a repressão crescente na Venezuela suscita crítica internacional mais rigorosa”.

Iniciativa da Argentina – O sinal mais explícito partiu da Argentina. Menos de 12 horas após a substituição após eleito presidente, Mauricio Macri deixou claro o que pensa do governo do país vizinho. Ele anunciou a intenção de conferir a exclusão temporária da Venezuela do Mercosul, por violar os padrões democráticos da aliança comercial.

“É a primeira vez que um presidente latino-americano quebra o silêncio covarde e critica abertamente esse governo que age de maneira antidemocrática”, diz Hidalgo. Se outros chefes de Estado se alinharão com Macri, depende de quão democraticamente transcorrerão as eleições deste domingo (06/12). Por enquanto, representantes do Brasil e do Uruguai comentaram a iniciativa de Macri com ceticismo.

Mesmo que a pressão internacional se intensifique, por exemplo em caso de fraude eleitoral, é questionável até que ponto isso virá a afetar o curso do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), comenta o analista do Instituto Cato. A restrição à filiação ao Mercosul não teria consequências práticas, já que o país não está mesmo ainda incluído no sistema de facilitação do comércio.

E pressão diplomática, de qualquer forma, quase sempre ricocheteia no presidente Nicolás Maduro: os adversários políticos ou são “fascistas” ou “imperialistas”; críticos dos partidos amigos no exterior são “traidores” ou “lacaios”. Ou simplesmente “lixo”, como no caso de Luis Almagro, secretário-geral da OEA e antigo ministro do Exterior venezuelano durante o mandato de José Mujica.

Exigindo que o governo desse fim à violência política às vésperas das eleições parlamentares, ele comentou que o assassinato do oposicionista Luis Manuel Díaz, em 25 de novembro último, tivera como fim “amedrontar” a oposição.

“Eu espero uma retratação, se é que ainda sobra alguma ética e moral a esse lixo de Luis Almagro – com o perdão do lixo”, esbravejou Maduro diante de câmeras de TV. Segundo o presidente, com a acusação o secretário-geral teria “se metido” com a Venezuela, “pátria sagrada” de Simon Bolívar e Hugo Chávez.

Isolamento progressivo – São vários os motivos por que praticamente nenhum dirigente latino-americano se interessa pela crise política na Venezuela. Por um lado, diversos governos pertencem à ala de esquerda que o ex-presidente Chávez definiu como “socialismo do século 21”.

Principalmente os de Bolívia, Equador e Nicarágua são considerados irmãos em espírito. Mas também continuam comprometidos com o chavismo os governos mais moderados, como os do Brasil ou Uruguai, de quem se poderia esperar, no mínimo, crítica discreta.

Ainda assim, os laços, antes estreitos, vão se dissolvendo visivelmente. “A Venezuela se vê confrontada com o isolamento progressivo em face da crise econômica”, afirma Reggie Thompson, analista para a América Latina da empresa americana de informações Stratfor. “Até mesmo Cuba vem se afastando da Venezuela há algum tempo, lenta mas seguramente, em direção aos Estados Unidos.”

Além disso, grande parte dos governos tem seus próprios problemas. “Dilma Rousseff, na verdade, também Mauricio Macri estão atarefados demais internamente para poderem se ocupar com a Venezuela”, explica Thompson.

Ele questiona seriamente se as eleições iminentes levarão a uma real mudança de poder no país: afinal, é só a Assembleia Nacional que será eleita, e não o presidente. Tampouco Juan Carlos Hidalgo, do Cato, acredita numa reviravolta verdadeira, já que Maduro está decidido demais a manter o poder.

Num outro ponto ambos os especialistas estão de acordo: mesmo que o pleito de 6 de dezembro traga uma mudança na Venezuela, um fim coletivo do socialismo do século 21 da América Latina não está à vista. Pois, apesar de todos os fatores em comum, cada país escolheu os seus próprios socialistas.

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