Ariosvaldo desde sempre teve um apreço pelos bens alheios. Não que fosse um cleptomaníaco, como a sua mãe insistia em dizer. talvez procurando uma desculpa para justificar essa mania do seu filho favorito, por sinal, por ser o único. Era mesmo um ladrão! Com todas as letras e exclamações.
Outra característica daquele rapaz era o amor pelos animais, especialmente pelos cães. Dizem até que havia pensado em se tornar veterinário, mas nunca tivera muito tutano para os estudos. Tanto é que a parte da escola que mais o havia encantado era justamente o sinal anunciando a hora da saída. Que alívio!
O rapaz foi crescendo e tentando aprimorar suas qualidades natas. No entanto, não foram poucas as empreitadas malsucedidas, que lhe valeram alguns bons anos no xilindró. Ninguém mais, além da dedicada genitora, acreditava mais na sua recuperação. Tanto é que todos já aguardavam a chegada da próxima viatura policial vir buscar o Ariosvaldo após mais um furto desastroso.
Pois era um domingo. Um domingo, desses com tempo tão lindo, que todos os clubes ficam abarrotados de biquínis, maiôs e sunguinhas em vários tipos de corpos, a maioria não tão atraente assim. E lá estava o Ariosvaldo planejando mais um trabalho, que talvez fosse o último do ano.
Ele percebeu que a moradora mais rica do edifício em frente acabara de sair carregando todos os apetrechos de um dia no clube. Ariosvaldo sabia muito bem que ela morava sozinha. Não teve dúvida e, então, logo estava diante da porta do apartamento.
O ladrãozinho não conseguiria derrubar aquela barreira que o separava das inúmeras joias da ricaça. Isso, no entanto, não era empecilho para o gatuno. Ele sacou um clipe do seu bolso e, quebrando-o ao meio, começou a operação. De tão bom naquilo, Ariosvaldo logo ouviu o clique da fechadura. Abriu!
Foi recebido por uma cadelinha, que pedia toda a atenção do ladrão. Ele afagou o animal, mas logo a deixou de lado. Precisava encontrar as joias. Abriu todas as gavetas, remexeu debaixo das roupas, mas nada de achá-las.
Ariosvaldo já estava quase desistindo, quando sentiu sede. Foi até a cozinha, abriu a geladeira. Uma garrafa de suco de laranja. Bebericou tudo, como se fosse um camelo ao enco9ntrar um oásis no deserto.
Satisfeito, depositou a garrafa sobre a mesa. Eis que, bem ali naquela cestinha diante dos seus olhos, estavam as inúmeras joias. Abriu aquele sorriso, ao mesmo tempo em que tomou a cesta repleta em suas mãos.
Ele precisava sair logo daquele apartamento. Virou-se e foi em direção à porta, quando, então, a cachorrinha latiu pedindo mais carinho. Ariosvaldo, que sempre tivera coração mole, pegou a cadela no colo e fugiu.
Não demorou, atravessou a rua e foi em direção ao seu apartamento. Esbaforido, abriu a porta e logo se sentou no sofá da sala. Colocou a cachorrinha bem ao seu lado e, finalmente, quis conferir quanto havia sido o lucro do dia. Eis que, então, ele percebe que havia se esquecido a caixinha no apartamento da sua vítima.