Aristides não era daquele lugar, mas também não conseguia se enxergar como pertencente à cidade natal, de onde havia saído há décadas e cujo aroma, ainda hoje, tentava esquecer. Há tempos, por sinal, imaginava que havia conseguido, até que esbarrou em um passante, desses que transitam em busca de algo que nem eles sabem o que é. Um sapato? Um doce diferente? Talvez uma chave de fenda, que imagina irá precisar, mas será cuidadosamente perdida no fundo de uma gaveta.
Passou, caminhou mais adiante. Curioso, virou o rosto e percebeu que aquele tipo havia desaparecido. Teria entrado em algum comércio? Voltou e entrou em todas as lojas próximas, até que se deparou com o homem, com um pastel na mão e um copo de caldo de cana sobre a bancada.
Sem fome àquela hora da manhã, Aristides pediu um café ao atendente. Este logo colocou uma xícara ao lado do caldo de cana do homem. Aristides pegou seu café, virou-se para o homem e sorriu.
— Bom dia!
— Bom dia!
— Gosto muito de pastel, mas já não tenho o apetite de quando cheguei a esta cidade.
— O senhor não é daqui?
— Não. Sou de Itabuna.
— Pois o senhor veja que coincidência. Sou de Itabuna também.
— Não me diga!
— Sim, sou.
— Chegou quando?
— Semana passada. E o senhor?
— Em janeiro de 1982.
— Muito tempo! Meus pais ainda eram crianças nessa época.
— Sim. Muito tempo.
— E o que o senhor veio fazer aqui?
— Vestibular.
— Pelo visto, passou.
— Não.
— E ficou por aqui mesmo assim?
— Sim. Perdi o ônibus de volta.
— Não tinha dinheiro para comprar outra passagem?
— Tinha.
— Hum. E não voltou por quê?
— Resolvi começar a andar com minhas próprias pernas.
Aristides pagou pelo café, cumprimentou o conterrâneo e foi embora com vontade de comprar uma passagem para Itabuna. Certamente, muita coisa havia mudado na cidade natal, mas sabia que o aroma das pessoas de lá continuava o mesmo. Sentiu saudade.