Notibras

Armando o bote com o Centrão, Lira, como verme, cava sua cova

Obcecados pelo poder, megalomaníacos na essência e parasitas por definição, os políticos brasileiros representam o que há de pior na sociedade. E são todos homens de bem. Ao que me consta, eles são empresários, médicos, professores, delegados, militares estrelados e até astronautas. Ou seja, didaticamente fogem dos estereótipos de marginais, presidiários e favelados, entre outros. No entanto, vivem à custa do dinheiro alheio, normalmente se locupletam para mamar nas tetas da viúva e não admitem contrariedades.

E não é só isso. Eles se unem contra a prisão legal de colegas que agem ilegalmente, os chamados malfeitores, e, com a naturalidade de um paquiderme no cio, criam leis e regulamentos única e exclusivamente para fornicar com os verdadeiros trabalhadores, também chamados eventualmente de eleitores.

Denominados excelências, são os que há algum tempo dormem e acordam em busca de mecanismos ou eventuais falhas do Executivo para mostrar as armas. É o caso do presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL), que, após atritos com um membro da equipe de Luiz Inácio, ameaça priorizar projetos da oposição, entre eles CPIs com assinaturas suficientes para serem instaladas.

Como preceitua um ditado popularíssimo, a ideia é criar dificuldades para alcançar as facilidades. Cômico, não fosse trágico, Lira e seus seguidores extremistas sabem que normalmente essas comissões acabam em pizza. Infelizmente, as excelências também sabem que elas atrapalham o andamento de matérias do interesse do governo e, obviamente, da sociedade.

Pouco importa. Importante é investir contra o governo, é sacanear o atual presidente da República que, interna e externamente, já deu mostras de que não pensa em dividir a administração do país com o dono do Centrão. Em última análise, para eles o povo é um mero detalhe.

Tumultuar o Executivo não é a única proposta do grupo. Barbarizando nos corredores do Congresso e cagando para o povo, o Centrão só quer a primazia do comando. Para contrariar o Supremo Tribunal, o Senado se utilizou do pretexto de acompanhar o suposto conservadorismo da população brasileira e aprovou no início desta semana uma PEC criminalizando o porte de drogas, independentemente da quantidade.

Não ficou, porém, só nisso. Em outra demanda, o STF decidiu encaminhar a aprovação da ampliação do foro privilegiado. Como contraponto, Lira anunciou a criação de um grupo para discutir a matéria. As razões espúrias são de conhecimento do grande público. A principal delas é derrubar o novo foro que, aprovado pelo Supremo, vai alcançar parlamentares, ainda que eles renunciem ou percam o mandato.

É claro que o homem é um animal político. No entanto, a política é o segmento que deveria trabalhar diuturnamente pelo diálogo, civilidade e respeito às instituições democráticas. No sentido oposto, há a antipolítica, na qual a prioridade é o uso da manipulação, da vilania, da violência, do medo e da intimidação.

A fronteira entre ambas é tênue, mas poderia ser tentada se os homens públicos pensassem menos em si e mais na população que os sustentam. É um sonho distante, principalmente porque todos aqueles que teoricamente representam o povo se valem exatamente da ignorância do eleitorado para se perpetuar sobre o palco iluminado do poder. Além disso, aproveitam a estultice popular para, por meio de falsas promessas, sustentar a ganância que os move diariamente.

Que me perdoem os contrários, mas, como dizia Roberto Campos, a burrice no Brasil tem um passado glorioso e um futuro promissor.

Que atirem a primeira pedra os integrantes do famigerado Centrão, cujas lideranças deliberadamente esquecem que foram eleitas especificamente para fazer leis e não para governar. Que tal pensar a política como a arte de fazer justiça e não como a arte de dominar? Quanto ao eleitor, sigo os ensinamentos do filósofo alemão Immanuel Kant, para quem não é dada ao homem que faz de si mesmo um verme a opção de se queixar quando for pisado.

A respeito dos políticos, particularmente sobre o atual presidente da Câmara, é urgente a necessidade de aplausos eloquentes pelo teatro que fazem. Do meu lado, posso ser impotente para evitar injustiças, mas jamais me imagino sem forças para protestar. Arthur Lira precisa entender duas coisas: 1) no quadro atual não cabe a ele travestir-se de Daniel; 2) a cova onde ele poderá ser jogado foi aberta por milhões de eleitores que deixaram os adoradores do mito a ver navios.

Por fim, Lula não é Dario. Os decretos do presidente são em benefício do povo. Lira finge não ver isso. Mas é só de birra, como menino chorão que quer forçar a entrada no jogo mesmo não sendo o dono da bola.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

Sair da versão mobile