Promover uma reforma completa, sem alterar as linhas mestras do projeto original, mantendo a fachada e ainda ampliando os espaços de convivência em uma casa com mais de 60 anos de idade não deixa de ser um desafio. Mais ainda levando em consideração as exigências de seus atuais moradores: um empresário europeu e sua família de três pessoas. Todos amantes de bons livros e de boas companhias.
“Os proprietários não queriam deixar o bairro, embora sentissem necessidade de uma área de convivência maior na casa, e, para isso, pensavam que seria necessário mudar”, explica a arquiteta Bruna de Lucca, do Studio BR, autora do projeto de reforma e interiores. “Eles têm um afeto muito grande pelo Belém, foi para lá que o chefe da família se mudou assim que chegou ao Brasil”, conta a responsável pela reforma.
E foi assim que os exteriores se tornaram parte fundamental do projeto. “O entorno da casa é muito horizontal, sem prédios, com uma vista bonita. Pensei em implantar um rooftop na altura da copa das árvores na rua para aproveitar todo esse potencial”, explica Bruna, que dotou a área de um amplo espaço de convivência, incluindo estar e área de preparação e consumo de alimentos. Além de um jardim vertical que funciona como pano de fundo e vai do terceiro ao segundo pavimento da casa.
Uma vez equacionada a questão central do projeto, Bruna concentrou todas as suas atenções nos interiores. “Por ser um imóvel antigo, havia a necessidade de substituir as redes elétrica e hidráulica. A estrutura bastante vigorosa das paredes tornou possível a atualização completa nos sistemas”, detalha a arquiteta, que providenciou a instalação de iluminação a LEDs e climatização inteligente, além de persianas automatizadas.
Além da melhor iluminação – foram adicionadas 150 lâmpadas ao imóvel –, a casa ganhou ainda conforto térmico, graças a um afastamento da laje superior do segundo pavimento, que isola a residência da alta incidência solar e promove menor consumo de ar-condicionado, mantendo os ambientes sempre fresquinhos.
Consenso familiar, a palavra de ordem para o projeto de interiores foi conforto. “O proprietário queria que quem entrasse na casa se sentisse imediatamente envolvido”, conta Bruna. Para proporcionar esta sensação, a arquiteta projetou um hall de entrada com ares minimalistas, porém acolhedor. “Também construímos uma escada de madeira com jardim embaixo”, diz a especialista.
É no segundo andar, no entanto, que se situa o “coração” da casa. Nele, os quartos se integram à área de lareira e TV por meio de um grande painel. O espaço de maior destaque é a biblioteca, ampla o suficiente para receber pequenos eventos, decorada com grandes poltronas que garantem todo o conforto necessário aos momentos de leitura. “A família gosta muito de ler e coleciona livros, mas até então eles ficavam ‘escondidos’, nos quartos. Ao criar a biblioteca, nós trouxemos essas obras para o centro da vida doméstica”, conta Bruna.
Por fim, para bem receber os familiares e amigos, outra das exigências do proprietário, a sala de jantar que antes comportava 8 pessoas foi reformada para ter capacidade de receber até 20 convivas. A cozinha foi integrada à sala e todas as janelas foram expandidas, tornando o ambiente ainda mais agradável. Questões de acessibilidade foram trabalhadas, tendo em vista parentes idosos e crianças.
Mármore, madeira e cores claras foram adotados para imprimir o estilo casual e descontraído da decoração. “Espaços com muitas cores e revestimentos se tornam enjoativos com o tempo. Por isso, trabalhamos com paredes brancas e elementos naturais, usando cores apenas em elementos de fácil substituição, como almofadas, estofados e cortinas”, explica Bruna. Ao que tudo indica, para que a ilustre casa do Belém, essa velha e elegante senhora de 60 anos, jamais saia de moda.