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Estupro eleitoral

Artistas do circo chamado Congresso fazem do Brasil piada

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Autor/Imagem:
Wenceslau Araújo - Foto de Arquivo

Ainda não me cansei da comicidade como forma mais fácil de viver. No entanto, há piadas que não devemos deixar para amanhã. Coisa muito distante no Brasil de nossos dias, a democracia só se consolida em qualquer nação do mundo quando a pá de cá converge com a pá de lá. Quando o tico não bate com o teco, isto é, quando eu de cá não consigo interagir com você de lá, é chegada a hora de repensar o país como algo menos unilateral, mais coletivo, ou optar por fechar definitivamente a porta e jogar a chave fora. Duro e triste para uma pátria de 213 milhões de pessoas é ver alguns de seus “patriotas” tratá-la como coisa, como propriedade, obrigando a que a maioria também a veja como nada. O pior de tudo é perceber que os que mais trabalham contra a imagem do Brasil são aqueles que deveriam matar e morrer para defendê-la. Como vivem em um circo, para eles o melhor é que o país seja mesmo uma piada.

Certamente que fechar a porta e jogar a chave fora é uma solução radicalmente bem humorada, de desespero pleno e sem volta aparente. No entanto, diante de um Congresso Nacional que prima pelo desprezo do povo, os brasileiros verdadeiramente patriotas não vislumbram outra saída. Com a imagem no chão desde que decidiu jogar a plateia de Deus e do Diabo, o Senado e a Câmara dos Deputados não têm outra coisa a não ser literalmente cagar na cabeça dos eleitores. Digo de todos porque uma minoria talvez já tenha alcançado onde querem chegar suas excelências faltando ainda dois anos para as eleições presidenciais.

Apesar dos desacertos políticos do governo democraticamente eleito de Luiz Inácio, mesmo sem muita vontade, durante o dia deputados e senadores juram apoiá-lo. O problema é à noite, quando, usando a máxima de que todos os gatos são pardos, os parlamentares, incluindo muitos dos governistas, aprovam pautas divergentes e absolutamente favoráveis à utópica política do ex-presidente do fim do mundo. Não há que se cobrar apoio irrestrito a esse ou aquele presidente. O que se exige, porém, é respeito ao Brasil, à população e, principalmente, preocupação com as numerosas e infindáveis mazelas nacionais.

Além de pensar rasteiro e no próprio bolso, enfraquecer um governante de esquerda para beneficiar um de direita é, a médio e curto prazos, o mesmo que jogar no lixo uma biografia que se pretendia positiva. A exemplo da regra da arbitragem de futebol, a ideia de boa parte dos congressistas parece cada vez mais clara: debilitar o dono da cadeira presidencial para, com ou sem Jair Bolsonaro, se tornarem, de fato e de direito, os donos do pedaço. Sei que é chover no molhado, mas vale registrar para as excelências que dependem do voto que, hoje, a maioria deles vale menos do que o que o gato enterra. Amanhã ou depois da manhã, provavelmente até o gato se sentirá enojado.

De que adianta recuperarmos a posição de oitava economia do mundo se, internamente, pensamos e agimos como república da masturbação sociológica? Somos grandes no tamanho e no potencial, mas tacanhos na eficiência e na honestidade daqueles que nos representam. Com apoio de quem também pensa como amebas, para alguns desses o importante é sermos amigos de Elon Musk, fazer hambúrguer para Donald Trump e vibrar com a vitória da direita no Parlamento Europeu. Dito isto, tudo indica que o melhor caminho é do Brasil na lixeira do mundo. Pelo menos são esses os indicadores defendidos pelo conservadorismo paquidérmico, maquiavélico e bandido de parte do atual Congresso Nacional.

Se a proposta é recolocar o país na condição de uma das nações mais atrasadas do mundo, estão conseguindo. Por exemplo, um dos maiores absurdos já vistos no planeta será aprovar a lei que põe o aborto no mesmo saco do homicídio. O resultado é que a estuprada acabará sendo considerada homicida, recolhida à prisão, enquanto o estuprador continuará solto, com o instrumento a postos e pronto para estuprar novas mulheres. Com todo respeito ao meu lado cristão, torço para que a mãe, a mulher, as filhas ou concubinas das excelências não virem vítimas. E a proposta que proíbe delações premiadas de presos? Ela impõe aos presos o silêncio e o impedimento de denunciar mandantes ou parceiros em crimes eventualmente encomendados, alguns até pelas excelências em questão. Tudo a ver com a caricatura amoral, nociva e despudorada usada pelos humoristas para definir os políticos brasileiros.

*Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras

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