As bobagens que elas fazem, sem saber que o tudo não vale nada
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emEric Schmidt, presidente da Google, disse há anos atrás que os jovens no futuro, ao alcançarem a vida adulta, terão o direito de automaticamente mudarem seus nomes para se livrarem do rastro de suas brincadeiras vergonhosas nas redes sociais.
Apesar de certo tom exagerado e até jocoso dessa previsão, cabe perguntar se a internet, que acaba de completar seus primeiros 20 anos de existência comercial no Brasil, tem mudado a forma como essa geração de nativos digitais vive sua vida em ambientes online, e quais implicações terão essas mudanças para o futuro destes jovens?
Um fenômeno que tem se tornado mais visível nos últimos anos entre jovens internautas em ambientes de redes sociais e dispositivos móveis é o compartilhamento de imagens íntimas de nudez e sexo, conhecido como sexting. Sexting tem origem inglesa e é a junção da palavra sex (sexo) + texting (torpedo). São mensagens com fotos ou vídeos trocadas entre jovens engajados em jogos e atividades eróticas ou sexuais online.
A palavra sexting já indica uma lacunaentre o discurso dos pais/educadores e a experiência dos adolescentes. Quando se pergunta aos adolescentes sobre sexting, nem sempre eles conhecem ou usam essa palavra. Para os pais/educadores, sexting pode ser considerado um excesso de exposição, mas para a geração de jovens hoje este fenômeno é encarado como uma forma de relacionamento,e é o modo como eles vivem suas primeiras experiências sexuais em ambientes digitais. Ouço relatos de adolescentes que admitem fazer sexting como prova de confiança, intimidade e cumplicidade com seu parceiro.
O fato incontestável é que trocar selfies de nudez e sexo pode ser muito prazeroso. Sabe-se que uma das fontes de prazer é o olhar, ver e exibir o corpo e o sexo do(a) parceiro(a) excita sexualmente. Além disso, é parte do desenvolvimento humano uma curiosidade sexual em olhar o órgão genital do outro.Certamente,o uso da webcam em ambientes digitais representa uma oportunidade para satisfazer essa curiosidade de forma anônima com um estranho ou alguém conhecido apenas virtualmente.
Os jogos sexuais envolvendo exibição e voyeurismo sempre existiram em diferentes tempos e espaços. Quem nunca se envolveu ou ouviu falar em brincadeiras e jogos sexuais com amigos atrás do muro da escola? Ou embaixo da escada do condomínio com vizinhos? A diferença é que hoje a escada do prédio e o muro do colégio ganharam novos espaços com a internet–eles estão nesse imenso espaço público que são os ambientes online.
Em 2014, dentre os 1225 pedidos de ajuda e orientação psicológica atendidos pela SaferNet Brasil, 224 foram relacionados a casos de sexting, um aumento de 120% em relação a 2013. Para conscientizar os internautas sobre as conquências do compartilhamento de imagens íntimas na internet, a A SaferNet lançou uma campanha global de alerta para o fato de que “A internet não guarda segredos” e propõe: “Mantenha a sua intimidadeoff-line”.
Sabe-se que o que se registra e compartilha na internet fica gravado e pode ser distribuído de forma viral. O que implica que todo ato quando ganha o espaço da internet não pode ser apagado ou esquecido. Daí a razão de já se discutir no parlamento europeu o direito ao esquecimento como um direito fundamental que deveria ser garantido por lei.
A internet hoje, independente de nossavontade, armazena o que nossa memória preferiria esquecer ouoque gostaríamos que ninguém mais lembrasse.
O desafio das interações nesses ambientes recai sobre a nossa responsabilidade, creio que nunca fomos tão responsáveis por nosso atos e os de outrem como somos atualmente. Para adolescentes que estão vivenciando suas primeiras experiências sexuais, essa responsabilidade pode ser muito pesada e onerosa.
Todos já fizemos coisas que em algum momento nos arrependemos e deixamos para trás. A geração de jovens de hoje será lembrada de coisas que eles deveriam ter, como nós tivemos, o direito de deixar para trás e esquecer.
Algo a se pensar que no futuro próximo, essa geração de hoje terá filhos que verão os pais nus ou fazendo sexo na internet. Sabe-se que imagens comoessas, ainda quando só habitam nossas fantasias, provocam horror e vergonha. Como será para a próxima geração?
Juliana Cunha