Mulher champanhe
As moças que nos fazem rir (e depois chorar)
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emEu costumava classificar as mulheres em duas categorias, mulheres-conhaque e mulheres-champanhe. As conhaque eram brabas, machucavam, faziam perder a cabeça em pouco tempo; seu avatar era a atriz francesa Jeanne Moreau. As mulheres-champanhe, simbolizadas por Marylin Monroe, eram esfuziantes, faziam rir – e só depois chorar. Eu fazia jogos de palavras com os nomes Moreau e Monroe, e preferia, por larga margem, as mulheres-conhaque. Até que te conheci.
Lembro de pedacinhos teus que, juntos, configuram um vídeo. Teu vestido branco, decotado e curtíssimo, a revelar seios e pernas magníficas. Teus olhos lindos, que tanto adorei. Teu riso cristalino, mais alto com a embriaguez; tua mão esguia segurando a taça de cristal com o líquido borbulhante. Eras tu, não Marylin, a mais perfeita tradução da mulher-champanhe – e mudei minha preferência assim que te vi.
Não lembro como nos conhecemos, estávamos os dois de pilequinho, acho que alguns amigos nos apresentaram. Sei que a atração foi imediata, começamos a conversar, depois a nos beijar, e saímos para o meu apartamento, onde mergulhei em teus braços. Isso virou a nossa rotina: um bar qualquer, onde bebíamos todas, fazíamos brincadeirinhas bobas de bêbado e depois cama, para um sexo magnífico.
Mas o tempo passa, a paixão acaba, o tesão se esvai… E ontem, depois que trepamos (não tão gostoso quanto no início, mas ainda gostosinho), me citaste as palavras terríveis do tango Los mareados:
“Hoy vas entrar em mi pasado…”
Terríveis porque definitivas, inexoráveis como o machado que inicia a descida contra uma nuca exposta, não há como desviar a lâmina. Com elas, o presente se desfaz e não há a menor perspectiva de um futuro a dois. Olhei-te nos olhos e vi que sim, tua decisão estava tomada. Então, quebrando nossa rotina, convidei-te para sair de novo, para mais um bar. Foi minha vez de citar Los mareados, parafraseando e não em castelhano:
– Esta noite, minha querida, o álcool nos embriagou. E vamos continuar! Pouco importa que riam da gente e nos chamem de bêbados de cair. Esta noite beberemos, porque não tornaremos a ver-nos mais.
Entramos no primeiro bar, bebemos – primeiro champanhe, depois conhaque – sem nos tocar, enquanto as lágrimas corriam. Foste embora sem um beijo de despedida.