Costumo dizer que os projetos elaborados por designers de interiores ou arquitetos são como filhos criados para o mundo: apesar de ter uma concepção autoral, quem molda e cria sua personalidade são os moradores que vão e vêm ao longo do tempo.
Não há sentimento mais gratificante que deixar uma casa pronta para receber seu morador. Essa arrumação final exige esforço, paciência para fazer inúmeras e incansáveis combinações, e muito desapego. Explico o porquê desse desprendimento: ao visitar um projeto tempos depois, ele jamais se encontra da forma como você o deixou.
Um móvel novo, uma arrumação inusitada, a cor de parede que o morador sempre quis – mas que você sugeriu outra – aparece em algum cômodo ou aquela velha almofada que foi deixada de escanteio volta ao sofá em seu papel principal. Assim como o ser humano, a casa se torna lar por ser viva e, dessa forma, flexível. De nada adianta querer ter uma casa de capa de revista se ela não serve ao seu dia a dia e a da sua família.
Lembro que na casa da minha mãe, eu e meu irmão não podíamos sentar no sofá da sala por ele ser off-while. O espaço era reservado a visitas, que sempre elogiavam a manutenção exemplar do objeto, mesmo com duas crianças no ambiente. Os anos passaram, a cor do sofá continuou imaculada, mas, pelo menos para mim, não houve registro de lembrança com o móvel tão adorado.
E essa situação foi exatamente o oposto do que aconteceu com a minha casa: após a chegada dos bebês, todos os cômodos foram se transformando para poder fazer parte do dia a dia deles ao longo do seu crescimento. E hoje, não há uma viagem em que o mais velho diz que não está com saudades da casinha dele.
A casa é um espaço que precisa aceitar novas circunstâncias sempre para, assim, registrar sua biografia. E ela é contada por meio das mudanças e adaptações realizadas ao longo do tempo. Engana-se o profissional que determina que a casa está pronta. O que se inicia é apenas mais um capítulo da história que ela contará.