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Machismo

Associação tenta reeducar homens para acabar com machismo

Publicado

Autor/Imagem:
Cristina Sánchez

Dentro de uma casa transformada em sala de aula é possível ouvir algumas vozes de homens que, pela primeira vez, reconhecem, envergonhados: “sou violento e estou aqui para apoiar e ser apoiado”.

Em um lugar repleto de cartazes contrários ao machismo, os homens percorrem um longo caminho para refletir sobre a violência e as consequências dela.

“É um modelo de reeducação no qual as histórias dos participantes são revisadas e, através de sinais corporais, nos indicam a violência e como se manifesta”, afirmou à Agência Efe Ricardo Ayllón, coordenador do Programa de Metodologia da Organização Gênero e Desenvolvimento (Gendes).

A associação trabalha promovendo novos pensamentos para erradicar os diferentes tipos de violência contra a mulher: sexual, física, psicoemocional, econômica ou verbal, através de oficinas e cursos.

“Cheguei aqui por causa de um ato de violência que cometi com a minha esposa. Gritei, discutimos e isso provocou a separação. Ela disse que não gostava quando eu gritava, que sentia medo, e isso me fez refletir”, explicou Jorge, engenheiro que há um ano entrou para o grupo.

O Gendes foi criado em 2003 para trabalhar a promoção da igualdade de gênero, mas com homens, que são os que majoritariamente exercem a violência sexual, de acordo com Ayllón. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), a violência sexual representa a perda de até 2% do Produto Interno Bruto mundial.

O modelo do Gendes faz com que o participante identifique, analise e enfrente as formas de violência que exerce contra o parceiro ou contra outras pessoas com as quais ele lida frequentemente.

“Estamos acostumados a ter tudo muito fácil. Aqui aprendemos que existem outras maneiras de poder ser homem e que você pode ser melhorar para melhorar as relações que tem”, argumentou Jorge.

Além dessas lições, o programa ensina a saber conviver e a ser autossuficiente.

“Uma das coisas que aprendemos aqui é a não esperar que os outros façam para a gente, aprendemos a ser autossuficientes. Se quero a minha roupa limpa, eu mesmo devo lavar, e não reclamar com outra pessoa. Aqui aprendemos a gerar um ambiente de confiança com os demais”, reconheceu Jorge.

É difícil quantificar a abrangência do trabalho, mas dados do grupo mostram que o Gendes atendeu 176 usuários e sensibilizou cerca de 3.500 pessoas através de oficinas em 2016. O grupo de reflexão – e o trabalho de reeducação – dura um ano e é dividido e 52 sessões de duas horas e meia cada. Todo o processo custa 100 pesos mexicanos (R$ 17).

“Tentamos ensinar formas diferentes de resolver os conflitos que envolvem igualdade, dignidade com a companheira ou pessoas com as quais queremos construir relações de intimidade”, explicou Arturo Ascención, um guia do grupo.

Segundo a associação, 90% dos homens chegam ao local após uma crise que fez com que esposa ou filhos, cansados de tanta violência, os deixassem. Mais de 60% não querem que a família termine, mas só 10% reconhecem que a sua violência é desmedida e pedem ajuda.

“Muitos chegam aqui e pedem ajuda, às vezes sem reconhecer que são violentos”, revelou Ayllón, afirmando que alguns acreditam que não são machistas, mas vendo códigos culturais muito arraigados se dão conta de que são.

Jorge admitiu que teve vergonha, mas reconheceu ter melhorado.

“Devo confessar que fiquei com vergonha de vir, chegar e dizer que fui violento com a minha companheira, mas o grupo me ajudou a ter coragem de me expressar e, ao mesmo tempo, refletir sobre o que estava fazendo de ruim”, disse ele.

O engenheiro defendeu que o trabalho do Gendes ajudou a recuperar as relações que ele tem.

“Sou mais sincero comigo e ganhei confiança nas pessoas para dizer o que sinto”, concluiu.

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