‘Assossiação’ política inventa evento e esquenta gastança dos cofres públicos
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O Brasil continua produzindo oportunidades para a gastança pública. Um dos mecanismos mais utilizados na Esplanada dos Ministérios e difundido em todo o país é o que ficou conhecido nos bastidores do poder como “eventograma”. É um setor oficioso (com carimbo oficial) da atividade pública que movimenta milhões de reais anualmente.
Ninguém sabe os objetivos e o que de útil produz o eventograma nos governos municipais, estaduais e federal. Mas é prática comum há muitos anos o universo de palestras, seminários, convenções, jornadas e outras denominações para a mesma coisa. Ou coisa nenhuma.
Alguns surpreendem pela originalidade. No sítio de uma organização de nome Astral – Assossiação (sic; é assim mesmo que consta no convite distribuído, com dois esses) Brasileira de Televisões e Rádios Legislativas, cujo endereço é www.astralbrasil.org, existe a convocação para um encontro na terça, 17 de novembro, quando serão revelados os segredos para que assembleias e câmaras legislativas aprendam como instalar emissoras de TV e rádio nos municípios.
O histórico do setor traz pouca contribuição à sociedade. O Ibope desses canais é próximo de zero. Mas custa muito caro aos contribuintes a instalação e manutenção desse recurso de mídia que pouca ou nenhuma utilidade comprovada oferecem.
O que surpreende é a relação de palestrantes e celebridades que aparece na programação do evento: Renan Calheiros, Eduardo Cunha, Edinho Silva, deputado federal Cleber Verde – este assumiu o controle da comunicação da Câmara dos Deputados -, alguns ministros e a presidente da Câmara Legislativa do Distrito Federal, Celina Leão.
Ao que consta em seus currículos, nenhum deles é especialista em veículos de comunicação. A conclusão, portanto, é a de que os segredos que serão revelados estão restritos aos caminhos de como obter a concessão dos canais televisivos e radiofônicos. E de como mergulhar na milionária atividade da difusão gratuita de seus rostos e feitos.
As maiores emissoras de TV e rádio brasileiras lutam para obter um ponto a mais nas suas audiências. A diferença é que suas estruturas não são mantidas com dinheiro do contribuinte. As emissoras privadas produzem uma vasta grade de programas que também não é barata. Mas como as emissoras legislativas torram dinheiro público, então tanto faz.
Revelar caminhos para chegar ao cofre deverá ser a missão do evento programado pela Astral e outras organizações que afirmam fazer a mesma coisa, como a Rede Legislativa, a Unale – União Nacional dos Legisladores e Legislativos Estaduais e a Abracam – Associação das Câmaras Municipais.
Se os acampados em frente ao Congresso Nacional perceberem onde estarão os protagonistas nacionais das telinhas reunidos na terça, 17, a partir das 9h30, então é para o Centro de Convenções que levarão suas barracas. Porque lá o barraco já está armado e “assossiado”…
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