Um asteroide com o nome do deus egípcio do caos e das trevas não causará nenhum estrago na Terra – pelo menos não neste século. A boa notícia foi divulgada pelo Centro de Estudos de Objetos Próximos da Terra da Nasa, na sexta-feira (26). Descoberto em 2004, o asteroide 99942 Apophis foi considerado um dos mais perigosos com potencial para impactar o planeta. Agora, após uma análise precisa da órbita do corpo celeste, os cientistas revisaram a opinião sobre ele.
Estudos anteriores alertavam que o asteroide de 1.110 pés de largura (340 metros) poderia representar uma séria ameaça à Terra. Os astrônomos estimavam que ele se aproximaria em 2029. Porém, graças a observações adicionais, o risco de um impacto no fim desta década foi posteriormente descartado, assim como o risco potencial de a queda ocorrer em 2036. Até este mês, no entanto, os cientistas não descartavam uma pequena chance de impacto em 2068.
As previsões mudaram depois do dia 5 de março, quando o Apophis passou a cerca de 10 milhões de milhas (7 milhões de quilômetro) da Terra. Durante esse voo distante, os astrônomos usaram observações de radar para obter um melhor controle da órbita do asteroide em torno do sol. Os resultados permitiram que eles excluíssem qualquer risco de queda do asteroide em 2068.
“Um impacto em 2068 não está mais entre as possibilidades, e nossos cálculos não mostram nenhum risco de impacto por pelo menos 100 anos”, disse Davide Farnocchia, engenheiro de navegação e pesquisador do Centro de Estudos de Objetos Próximos à Terra da Nasa, em um comunicado.
“Com o apoio de observações ópticas recentes e observações adicionais de radar, a incerteza na órbita do Apophis caiu de centenas de quilômetros para apenas um punhado de quilômetros quando projetada para 2029”, disse Farnocchia. “Este conhecimento muito aprimorado de sua posição em 2029 fornece mais certeza de seu movimento futuro, portanto, agora podemos remover o Apophis da lista de risco.”
O Centro de Coordenação de Objetos Próximos à Terra da Agência Espacial Européia também removeu o Apophis da relação de corpos celestes com potenial de atingir o planeta.
Tecnologia
A Nasa mantém uma lista de risco e rastreia asteroides com órbitas próximas às da Terra. Cientistas do centro usam radar e telescópios para estudar objetos próximos e entender os perigos que eles podem representar.
Para observar o Apophis e removê-lo da lista de risco, os astrônomos usaram a antena de rádio Goldstone da Deep Space Network perto de Barstow, Califórnia. Esse equipamento é um dos três ao redor do globo que permitem a comunicação com espaçonaves através do espaço profundo. Os cientistas também contaram com a colaboração do Telescópio Green Bank, na Virgínia Ocidental.
“Embora o Apophis tenha feito uma aproximação recente com a Terra, ela ainda estava a quase 16 milhões de quilômetros de distância”, disse Marina Brozovic, cientista do Jet Propulsion Laboratory. “Mesmo assim, fomos capazes de adquirir informações incrivelmente exatas sobre sua distância com uma precisão de cerca de 150 metros. Essa campanha não apenas nos ajudou a descartar qualquer risco de
impacto, mas nos preparou para uma oportunidade científica maravilhosa.”
As imagens podem parecer confusas, mas a resolução é suficiente, uma vez que o asteroide estava a cerca de 17 milhões de milhas de distância, ou 44 vezes a distância entre a Terra e a lua.
“Se tivéssemos binóculos tão potentes quanto esse radar, poderíamos sentar em Los Angeles e ler o menu de um jantar em um restaurante em Nova York”, disse Brozovic.
Mais perto que os satélites
Os dados dessa observação ajudarão os cientistas a aprender mais sobre a forma do asteroide e a taxa de rotação. A crença atual é que Apophis tem a forma de um amendoim.
Mesmo que ele não represente nenhum risco pelos próximos cem anos, ele encontrará o campo gravitacional da Terra durante seu sobrevoo em 13 de abril de 2029 e passará a 32 mil quilômetros da superfície da Terra. Está mais perto do que os satélites que orbitam a Terra e 10 vezes mais perto do que a lua.
O Apophis será visível para as pessoas no hemisfério oriental a olho nu, sem necessidade de telescópio ou binóculo. E os astrônomos terão a chance de estudá-lo mais de perto.
“Quando comecei a trabalhar com asteroides, depois da faculdade, Apophis era o garoto-propaganda dos asteroides perigosos”, disse Farnocchia. “Há uma certa satisfação em vê-lo removido da lista de riscos e estamos ansiosos para o que poderemos descobrir durante sua aproximação em 2029”, concluiu.