O lutador
Ataliba, franzino, sabe como vencer trogloditas
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emAtaliba, apesar do corpo que nem fiapo, sempre foi afeito a trocar sopapos. Ligeiro igual macaco-aranha, deixava os adversários, por maiores que fossem, no farelo. Tamanha valentia chamou a atenção do Calixto, um empresário de lutas clandestinas, onde as apostas corriam soltas.
O brigão passou a contar com um treinador, o Osvaldão. O homem, apesar de nunca ter vencido nem aquelas contendas nos tempos de escola, era um estudioso do ofício. Tanto é que ele já havia revelado alguns campeões, inclusive desses torneios conhecidos do grande público. Todavia, o que atraía o sujeito eram as disputas absconsas, onde o perigo iminente era recompensado com polpudas somas de dinheiro.
Além do Osvaldão, Calixto resolveu contratar uma psicóloga, a Ana Luísa, para umas sessões com seu pupilo. Não que Ataliba não estivesse correspondendo às expectativas, pois, até aquele instante, derrotara todos os adversários, por maiores que fossem. No entanto, o empresário não queria correr riscos por conta de alguma possível crise emocional.
Na primeira consulta, Ana Luísa, intrigada como é que aquele homem tão franzino conseguia se sair tão bem contra adversários muito maiores, o observou por um ou dois minutos. A profissional, então, começou a questionar o paciente, que, com fala arrastada, a tudo respondia.
— Não vai querer me dizer que você não tem medo.
— Tenho até demais, doutora.
— Então?
— Então, o quê?
— Como é que você consegue enfrentar aqueles trogloditas?
— Lutando.
— Como assim? Você dá conta de superar esse medo todo que você tem?
— Impossível.
— Então?
— Então, o quê?
— Como consegue brigar com aqueles homens, se você possui esse medo todo?
— Ah, isso é a parte mais fácil.
— Como assim?
— É que, toda vez que vou lutar, trato de pegar todo o meu medo e deixar guardadinho na gaveta de meias. Depois da luta, pego tudinho de volta.
*Eduardo Martínez é autor do livro “57 Contos e Crônicas por um Autor muito Velho”.
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