Notibras

Ataque da grande mídia a Xandão cheira a namoro com a extrema-direita

O presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Alexandre de Moraes, durante coletiva de imprensa no Centro de Divulgação das Eleições.

Sou da época em que grandes jornais estampavam na capa poemas de Camões e receitas de bolos. Também havia matérias irônicas, hilárias, sob o título ‘Agora é samba’. Era o tempo da dita dura, com jornalistas sendo substituídos nas redações por censores levados pelas coleiras dos generais. Textos que supostamente contrariavam o regime militar eram sumariamente apagados. Veio então a ideia de, para evitar espaços em branco, mostrar ao leitor que havia algo de estranho acontecendo. Hoje o quadro está prestes a se repetir. E vem a mando da direitona, que parece controlar a grande mídia que, nos anos de chumbo, tentava respirar ares democráticos.

O quadro que hoje se desenha é preocupante. Vem com as cores dos ataques diários, recorrentes, da grande imprensa ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. Levantam preocupações que vão além das críticas normais e saudáveis em uma democracia. A forma e o tom como estão sendo publicadas, muitas vezes carregadas de exageros e distorções, sugerem uma aproximação perigosa com narrativas extremistas, especialmente aquelas promovidas pela extrema direita.

Moraes tem sido alvo frequente de ataques devido ao seu papel ativo em investigações contra figuras da extrema direita, incluindo políticos, empresários e influenciadores digitais que fomentam desinformação, ataques às instituições democráticas e incitação ao ódio. Esse tiroteio, embora frequentemente disfarçado de críticas legítimas, frequentemente resvalam para discursos que ecoam as mesmas retóricas usadas por grupos que desejam deslegitimar o Judiciário e enfraquecer as instituições democráticas.

A imprensa tem um papel fundamental em uma sociedade democrática: ela deve investigar, criticar e questionar aqueles que estão no poder. No entanto, há uma linha tênue entre a crítica construtiva e a promoção de narrativas que alimentam o ódio e a desinformação. Quando certos veículos de comunicação optam por focar incessantemente em um único ministro, ignorando o contexto mais amplo de suas ações e suas responsabilidades constitucionais, isso pode ser interpretado como uma tentativa de enfraquecer sua autoridade e, consequentemente, a do Supremo.

É importante questionar a quem esses ataques realmente beneficiam. Ao alimentar a desconfiança no STF e em figuras como Moraes, a grande imprensa corre o risco de se alinhar, mesmo que indiretamente, com interesses antidemocráticos que buscam minar o Estado de Direito. A história recente do Brasil mostra como narrativas inflamadas e descontextualizadas podem ser manipuladas para servir a agendas políticas perigosas.

Em tempos de polarização extrema, é crucial que a imprensa mantenha seu compromisso com a verdade e a imparcialidade. Criticar o poder judiciário é não apenas legítimo, mas necessário. No entanto, essa crítica deve ser feita com responsabilidade, baseada em fatos e sem ceder às pressões de grupos que desejam ver o caos institucional se instalar mais uma vez no País.

O flerte com a extrema direita, ainda que disfarçado de jornalismo investigativo, coloca em risco a própria democracia que a imprensa deve proteger. É essencial que, ao criticar figuras como Alexandre de Moraes, a grande imprensa não se esqueça do seu papel na defesa dos valores democráticos e na construção de uma sociedade mais justa e informada. Ler Camões é gostoso. Receitas de bolos são aproveitadas. Mas uma redação empastelada, deixa no ar um sabor acre ao paladar dos democratas.

Sair da versão mobile