Maria é uma menina bonita. Inteligente, cursou duas faculdades. Mora com os pais e tem um bom emprego, com um bom salário e, mais importante, fazendo o que ama. Maria tem também um namorado. E é aí que a vida de Maria passa de conto de fadas a conto de terror.
O namorado de Maria é legal. Ele gosta de falar que ela é burra, afinal de contas, nunca sabe como trocar o canal HDMI da TV. Ele também fala como seus pais são estranhos e que ela sempre fica do lado deles. O namorado de Maria não tem emprego, mas fala mal do emprego dela e, vez ou outra, pede dinheiro “emprestado”, que nunca devolve. Ele também quer se casar com ela e ter filhos. Um dia. Por enquanto ele está “deixando rolar” há uns quatro anos.
Quando Maria tira a roupa para tomar um gostoso banho depois do trabalho, ele a olha com desejo, para logo depois falar como aquela celulite que ela tem na bunda está “estranha” e se não teria algo que ela poderia fazer. Uma vez, ele mostrou para ela uma revista Playboy e pediu que ela colocasse os peitos da modelo da capa – mas não o julguem porque ele até pagaria a cirurgia, veja bem. Ele também dá bons presente para ela. Uma vez comprou uma linda geladeira para a casa deles e, em outra oportunidade, um ar condicionado para o quarto. Deles. Que eles dormem juntos.
E aí ele fala que a ama. Que ela é a mulher da vida dele. Às vezes, não sempre, ele bate nela – só um tapinha – porque “fica nervoso”. Sabe, ele teve problemas com o pai, por isso ele age assim. Ele repete a exaustão que ela precisa de terapia. Ele não precisa.
Quantas Marias você conhece? Não estou falando de casos realmente graves, daqueles de delegacia, estou falando daqueles cujos agressores disfarçam melhor. Aqueles que te fazem acreditar que você está louca e que não precisa do que você acha que precisa. E que merece
menos do que você realmente acha que merece. Aqueles em que um homem machista te trata feito lixo e depois de uma boa trepada tudo parece igual novamente. Aquele que, depois de alguns anos, você está parecendo bem mais velha do que ele. Sabe? Conhece?
Se conhece, converse com essa mulher. Tente, ao menos, mostrar que não, ele não é legal. Sim, eu sei que tudo parte da gente e que precisamos nos colocar nas situações, mas quando chega nesse ponto, será que tem mesmo volta? Será que este sapo vai mesmo virar um príncipe quando for beijado? Mulheres com esse padrão de relacionamento estão sempre esperando por um milagre. Acham que um dia ele vai acordar e perceber o quão maravilhosas elas são. Não querem largar o osso, apesar de toda agressão moral, verbal e até mesmo física. Acham, a partir de determinado ponto, que realmente merecem esse tipo de relacionamento. Riem, disfarçam, passam a ser outras pessoas. Uma casca alegre para um coração machucado.
Sim, existem relacionamento abusivos de todas as naturezas. De pais e filhos, de mulher para o seu homem. Mas o mais comum de se ver são os de homens abusando de mulheres. Não, elas não são culpadas. Estão inseridas demais na história. Apaixonaram-se pela ideia e não pela pessoa. Com o tempo passaram a acreditam que são isso mesmo, lixo, que nenhum homem mais no mundo vai querer – ainda bem que ele ainda as aguenta.
É difícil de se entender estes casos. Mas, se você conhece alguém ou se acontece com você mesma, peça ajuda. Às vezes ele está certo e é você que precisa de terapia. Para se ajudar, para perceber que sim, existem caras legais e sim, você pode ser feliz. Que tal nos unirmos, como mulheres, nessa campanha? A saúde do planeta e de todas as pessoas, agradece.