Você guarda memórias em seus pertences? Se sim, isso lhe faz acumular objetos por medo, insegurança ou bloqueio em “se livrar” de memórias afetivas? Bem, você não é a única pessoa a fazer isso.
Estudos mostram que muitas pessoas têm dificuldade em passar seus itens adiante (seja para venda, doação, reciclagem ou até mesmo para descarte, quando as peças já não têm mais utilidade) justamente por causa do apego emocional que possuem em relação aos objetos.
O valor afetivo aos pertences pessoais é um conceito muito utilizado em áreas da psicologia, que aborda o valor que colocamos para cada objeto que temos. É como se cada item nos lembrasse alguma história importante, momento ou etapa da nossa vida.
Larissa Massei tem 22 anos e é formada em gastronomia. Apesar de não exercer diretamente a profissão, Larissa não se sente confortável em passar adiante os materiais que comprou durante a faculdade. Facas, livros, outros utensílios de cozinha e até mesmo a doma (uniforme dos chefes de cozinha) continuam em sua casa, mesmo que, no momento, sirvam apenas para ocupar espaço físico, uma vez que não os usa desde que acabou o curso.
“Alguns utensílios de cozinha eu continuo usando, mas muitos não servem mais porque não são práticos para o dia a dia, pois servem para preparos específicos que não realizo hoje em dia”, conta. “Mesmo assim eu não tenho coragem de passar adiante, mesmo estando em perfeito estado. Tudo me lembra de um tempo muito feliz, quando estudava. Por isso não tenho vontade de me desfazer”, conclui Larissa.
Essa é a realidade de diversas pessoas. Sabe aquele look que você usou em uma ocasião muito especial (como formatura ou noivado, por exemplo), ou aquela joia que foi presente da sua avó, mas que você usou apenas uma vez? Tudo isso carrega valor afetivo. É como se fosse parte daquela memória. E uma vez que é parte da memória, dar o objeto para outra pessoa poderia significar dar parte dessa lembrança especial. “Minha doma me acompanhou durante dois anos inteiros. Esteve comigo em diversos momentos importantes da minha formação. Não consigo imaginar outra pessoa usando”, explica Larissa.
E é então que você, possivelmente, percebe que não tem espaço “para mais nada”. É quando você vê seu armário lotado de roupas, mas mesmo assim percebe que usa sempre as mesmas opções. Ou quando sua casa está recheada de objetos, mas você não os usa. E então, por que não nos livramos deles?
Em uma sociedade de economia criativa, poderíamos passar peças em bom estado adiante para recebermos outras peças, igualmente usáveis, de outra pessoa. Isso geraria uma cadeia de economia, uma vez que ninguém precisou comprar nada novo nesse processo – basta participar do ciclo de doações e recebimentos. Vale a pena praticar o desapego. Mas é preciso estar preparado emocionalmente para isso. É preciso trabalhar em você que suas memórias não estão necessariamente em objetos, mas, sim, dentro de você.
Quando perguntada como se sentiria a respeito de passar adiante objetos que não usa mais para receber, em troca, outros que seriam úteis em seu dia a dia, Larissa ficou pensativa e um pouco relutante, mas percebeu que valeria a pena e, mais do que isso, faria bem a ela. “É claro que sempre vai ter aquele item que é mais importante para você. Uma herança de família especial, uma peça de roupa que era da sua mãe ou qualquer outra coisa. Mas não devemos colocar esse valor emocional em tudo”, reflete. “Realmente vale a pena trabalhar o desapego de alguns objetos. Mas, antes, preciso praticar o desapego emocional que tenho com eles”, conclui Larissa. E você, como se sente em relação aos seus pertences?
Sejam eles roupas, itens de decoração ou qualquer outra coisa, devemos entender que nossas memórias, emoções e sentimentos devem estar dentro de nós, porque o material é passageiro, muitas vezes acaba estragando, ou sendo perdido, e isso não significa – de forma alguma – que perdemos nossa memória especial, pois ela está em nós, não nos objetos!