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A seriema

Atenção, rapazes. Ida a urologista pode sair de graça com direito a troco

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Autor/Imagem:
Cadu Matos - Foto Produção Francisco Filipino

Pompeu, o Grande, general e almirante romano, escreveu: Namorare est, vivere non est. Ou coisa semelhante.

Dois milênios depois, o poeta português Fernando Pessoa traduziu no melhor sotaque do Rossio: Namurar é pr’ciso, viver nun é pr’ciso. Ou coisa semelhante. Caetano divulgou a frase urbi et orbi, e a coisa viralizou.

Agora é minha vez. Por ser preciso, estou namorando. Minha primeira transa septuagenária não foi um chabu, longe disso, mas também não foi nenhuma brastemp (citações publicitárias entregam a idade, mas tudo bem, já confessei minha faixa etária). O importante é que decidi procurar um urologista para melhorar o meu desempenho.

Surpresa número um, era uma urologista. Consulta marcada para as 8h30. Acordei cedo, deu tempo pra tomar café, tomar banho, lavar cuidadosamente as partes baixas, vestir-me e chegar no consultório na hora marcada.

A médica era uma morena magrinha, jovem, puxada pra feia, com vestígios de um corte moicano no cabelo. A magreza e o tufo de cabelo levantado me fizeram pensar numa seriema (a partir de agora vou chamá-la de Seri).

Surpresa número dois: antes de começar a consulta, Seri dirigiu-me um olhar fundo e sugestivo. Fiquei meio sem graça, pensei que estava imaginando coisas devido ao insólito de estar diante de uma urologista, mas fui em frente. Expliquei-lhe que estava namorando e queria ter um desempenho melhor na cama. Falei em Viagra e ela me cortou:

– Há coisas melhores, você vai ver – disse com um sorrisinho malicioso. – E uma mulher sensual vale por mil viagras – exagerou.

Retomando o profissionalismo, Seri solicitou vários exames. Em seguida – surpresa número três –, perguntou de bate-pronto:

– Você já fez exame de próstata?

– Uma só vez, há muito tempo – respondi.

Ela apontou para uma cama hospitalar, junto à parede do consultório, e falou:

– Deite ali, de barriga para cima.

Obedeci, sem graça, com a cabeça a mil. Lembrei-me de uma história de Luiz Fernando Verissimo. Um estancieiro gaúcho vai fazer exame de próstata. O enfermeiro que cuidou dele (belo eufemismo!) era um gauchão de 1,90 m e mãos enormes. Após a dedada, o gauchão perguntou o que ele estava sentindo. O estancieiro engoliu em seco e gaguejou: “Eu sinto…sinto… sinto que te amo!”.

Pois bem, eu estava deitado, com a calça e a cueca abaixadas até os tornozelos, com as pernas afastadas uma da outra e dobradas nos joelhos, em posição ginecológica. Esperava resignado e apreensivo o enfermeiro cujo dedo me invadiria o rabo e suplicava aos deuses que Seri desviasse o olhar na hora, já havia constrangimento suficiente. Mas não havia enfermeiro; ela levantou-se com ar decidido, foi até um pequeno armário, colocou uma luva azul na mão direita, besuntou-a com uma porção generosa de vaselina, veio em minha direção e mandou ver.

Aquilo não era exame de próstata, era um fio terra de responsa, dos desencapados! E demorado, Seri estava se divertindo. Mas afinal acabou, a doutora sentou-se à sua mesa com o rosto ruborizado mas novamente com um ar profissional. Logo em seguida, eu já estava vestido e sentado diante dela. Meu rosto parecia um tomate, de tão vermelho.

– Vou receitar um remédio para fortalecer suas ereções – ela falou. – Tome todas as noites.

– Mas doutora – gaguejei –, minha namorada mora longe, só vou vê-la em janeiro…

– Tome todas as noites – insistiu. – E nem pense em se tocar depois.

Em seguida aproximou-se, passou a língua nos lábios e falou com voz sedutora:

– O que você precisa é de uma mulher. Uma profissional razoável é duzentinho por trepada, mas eu quebro seu galho por cinquenta.

Olhei-a sem acreditar e permaneci em silêncio. A expressão da serieminha mudou.

– Tá bom. Eu pago cem! Sujeitinho ganancioso!

Fazer o quê? Grana é grana.

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