Riocentro, parte 2
Atentado frustrado faz bomba estourar de novo no colo do feiticeiro
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emTrágico não fosse cômico, o bombástico episódio da noite dessa quarta-feira (13) na Praça dos Três Poderes deixou pelo menos cinco recados para a sociedade. O primeiro é que o patriotismo raivoso e sem nexo de alguns definitivamente degenerou para o terrorismo. O segundo evidenciou o amadorismo dos feiticeiros vinculados à fracassada seita que se autodenomina bolsonarismo. Terceiro e mais importante, ratificou o brasileirismo de Deus. Por sua obra e graça, mais uma vez Ele evitou eventuais mortes de inocentes, como já fizera em 1981, no famigerado atentado do Riocentro.
Também lá, a bomba ou o conjunto de bombas estourou no colo do terrorista. Para os mais novos e, talvez por desconhecimento, enrabichados de corpo e alma com as teses da extrema-direita, o atentado do Riocentro foi um ataque terrorista frustrado ocorrido na noite de 30 de abril de 1981, durante o show do Dia do Trabalho. É sempre à noite que os covardes atacam. A ideia à época era incriminar grupos que se opunham à ditadura militar e, desse modo, justificar a necessidade do aparato de repressão e retardar a abertura política em andamento.
O atentado de 1981 foi planejado para ser o maior ataque terrorista da história do Brasil. Caso as bombas tivessem estourado no interior do centro de convenções, onde estavam cerca de 20 mil pessoas, as explosões assustariam o público que, na tentativa de escapar com rapidez do Riocentro, acabaria provocando mortes e ferimentos em centenas de pessoas. A condução desastrada da operação minou seus efeitos. Como Deus estava a postos e, mesmo de olhos fechados, percebeu que somente dois terroristas foram vitimados pelos explosivos. Um morreu e outro ficou gravemente ferido.
Guardadas as devidas proporções, tudo mais ou menos conforme o script da Praça dos Três Poderes. Ainda que algumas autoridades vinculadas ao que resta do bolsonarismo afirmem se tratar de um desequilibrado, o homem-bomba certamente tinha objetivos bem definidos. Como os parças do Riocentro, o camarada deu com os burros n’água: pensou em acertar o que estava vendo, mas acabou acertando no que não viu: ele mesmo. Melhor assim. Menos um maluquete a atazanar a vida de quem só quer viver em paz.
O quarto recado é para ser estudado. Com todas as vênias à maioria do povo do Estado, atualmente Santa Catarina não agrega nenhum valor positivo ao mapa do Brasil. Que o diga o deputado Jorge Goetten (Republicanos-SC), conhecido de longa data do dono do carro que explodiu defronte ao prédio do Supremo Tribunal Federal. O sujeito, cujo nome está escrito em letras garrafais na caderneta de pedidos de São Pedro, era frequentador assíduo do gabinete do parlamentar.
Por fim, apesar do desassossego da população ordeira e serena, ainda temos “infiltrados” no Congresso Nacional, nas assembleias legislativas, nas câmaras municipais e no eleitorado nacional. Loucos pelo poder, eles continuam topando tudo pela implantação do despotismo e da tirania no Brasil. Embora o fígado tenha amanhecido pululando, esta narrativa não foi escrita com a bílis escorrendo pelo canto da boca, tampouco aproveitando a derrocada do extremismo à direita como justificativa de um eventual ranço arquivado no fundo da alma. Trata-se apenas de um desabafo de um cidadão brasileiro cansado da violência exagerada de conterrâneos que nunca souberam perder.