Pedro Nascimento, Edição
Equipes de emergência e mais de 500 soldados do Exército da Somália continuam hoje (16) com os trabalhos de resgate para tentar encontrar sobreviventes entre os escombros dos edifícios destruídos nos atentados de sábado em Mogadíscio. De acordo com o balanço mais recente, 315 pessoas morreram.
As famílias se amontoam nas áreas próximas às explosões e nos hospitais com a esperança de encontrar parentes entre os mais de 400 feridos ou pelo menos conseguir identificar algum dos corpos, uma tarefa árdua, já que muitos morreram queimados.
“Quase todas os feridos estão em estado grave. O horror é indescritível”, afirmou uma enfermeira do Hospital Medina à emissora Shabelle. Até agora, 25 corpos foram removidos e acredita-se que o número de vítimas continue crescendo.
O ministro de Informação, Abdirahman Osman Yariisow, informou que a campanha de doação de sangue para os hospitais está sendo bem-sucedida. Entre os doadores estava Muktar Robow, ex-porta-voz da organização terrorista Al Shabaab, organização que o governo, meios de comunicação e especialistas acusam de estar por trás do ataque, apesar de ninguém ter reivindicado a autoria até o momento.
Robow, também conhecido como Abu Mansur, condenou o atentado e pediu para que os somalis resistam na luta contra os jihadistas. “Se resistirem, não levará mais do que alguns meses para eliminá-los e as baixas não serão tão grandes”, disse ele, em referência ao estrago causado pelas explosões de dois caminhões-bomba na frente de um hotel e de um famoso mercado de Mogadíscio.
O antigo membro da cúpula da Al Shabab, que prometeu colaborar com o governo no combate ao terrorismo após formalizar a sua deserção em agosto, indicou que está “preparado” para liderar as ofensivas contra a organização: “Eu os conheço melhor que vocês”. Após as condenações generalizadas da comunidade internacional, países como Quênia, Djibuti, Etiópia e Turquia atenderam ao apelo do governo somali para atender os feridos daquele que já é o maior atentado terrorista ocorrido na Somália até hoje.
A Turquia, velho parceiro desse país do Leste da África, enviou aviões para transferir os 30 feridos mais graves a hospitais de Ancara e Istambul. O país também encaminhou uma centena de médicos para ajudar os profissionais dos hospitais de Mogadíscio. Além disso, o Executivo pediu aos turcos que apoiem os somalis neste momento e anunciou que enviará aeronaves com medicamentos ao país.
O primeiro-ministro somali, Hassan Ali Khaire, disse que nas próximas horas mais feridos em estado grave serão transferidos ao exterior para receber tratamento de emergência.
A primeira explosão aconteceu na frente do Hotel Safari, que fica em uma das áreas mais movimentadas da capital, com vários escritórios, hotéis e restaurantes. O segundo ataque, com modus operandi idêntico, foi ao lado de um famoso mercado situado perto da antiga sede da companhia aérea Somali Airlines, no distrito de Wajir.
De acordo com analistas locais, os problemas internos do governo e o seu distanciamento da cúpula do Exército permitiram ao grupo terrorista recuperar a capacidade de agir em grande escala.
Após a renúncia do ministro de Defesa e do chefe das Forças Armadas na quinta-feira passada, a emissora Radio Garowe disse que o diretor dos serviços de inteligência somali, Abdullahi Mohamed Ali, também conhecido como Sanbalolshe, será destituído nos próximos dias por perder a confiança do Executivo. A organização terrorista, que se filiou à rede internacional da Al Qaeda em 2012, controla parte do território da Somália e quer instaurar um Estado islâmico no país.