O estudo ‘Barômetro Covid-19’, da Kantar, tem explorado o sentimento e as expectativas das pessoas em todo o mundo desde o início da pandemia, ocorrido há mais de 500 dias, quando a OMS tomou conhecimento de uma “pneumonia de causa desconhecida em Wuhan”, na China. E neste momento em que alguns países estão liberando restrições enquanto outros ainda enfrentam tempos devastadores, a Onda 9 do levantamento (abril de 2021) traz novos dados sobre a mudança de hábitos e comportamentos da população global e analisa os desafios atuais.
Segundo o estudo, 42% das pessoas no mundo todo foram pessoalmente afetadas pela Covid-19; 8% relataram ter contraído o coronavírus, 23% disseram que um familiar próximo foi diagnosticado e 23% que um amigo próximo foi contaminado. O impacto é mais extremo no Brasil, onde 87% dos entrevistados dizem que eles próprios ou alguém próximo foi infectado.
Preocupação generalizada
Embora a situação tenha melhorado em muitos países, a ansiedade e a cautela ainda são muito altas e 70% das pessoas concordam que o coronavírus ainda os preocupa “enormemente” (contra 79% em abril de 2020). Mas, o advento da vacina é transformador. Nos países “líderes” em que a taxa de vacinação é superior a 30% e o número de novos casos é classificado como baixo, estável ou em declínio, o nível de preocupação caiu de 76% para 57%. Nos países ainda batalhando, aqueles em que a taxa de casos não está diminuindo, o nível de ansiedade aumentou de 75% para 80%.
Além disso, muitas pessoas ainda estão preocupadas com a possibilidade de ficarem doentes. Esse número é de 33% entre a população dos países “líderes” e 53% nos países na batalha.
A boa notícia é que as pessoas permanecem pacientes com as regras que a pandemia exige. A maioria delas (61%) nos países “líderes” continua a apoiar a implementação das diretrizes até o fim do risco significativo. Apenas 1 em cada 4 (25%) dizem que “as regras estão durando por muito tempo”. Por outro lado, preocupantemente, nos países em batalha, 55% concordam em continuar aderindo às regras, enquanto 35% não pensam assim.
Impacto na saúde mental
O estudo mostra que o custo da pandemia no bem-estar mental continua a crescer. Quase metade dos entrevistados no mundo (42%) sentiu que a pandemia afetou sua saúde mental. Neste quesito, o progresso na vacinação parece estar agindo como uma válvula tranquilizadora, uma vez que o impacto na saúde mental relatado é significativamente menor nos países “líderes” (35%) em comparação com os países classificados como ainda em batalha (49%).
Os jovens estão sendo afetados de forma mais profunda, com o grupo de 18 a 24 anos relatando o pior impacto, seguido pela faixa etária de 25 a 34 anos. Aqueles com 65 anos ou mais continuam a sofrer o menor nível de impacto, embora o índice tenha aumentado de 21% em agosto de 2020 para 29% em abril de 2021.
Impacto financeiro
Mais da metade da população (54%) disse ter tido sua renda afetada pela pandemia. Outros 18% esperam que sua renda familiar caia também como resultado da emergência sanitária. Mais uma vez, impactou mais os jovens (18 a 34 anos) com 62% deles já tendo experimentado redução de rendimentos.
A maioria das pessoas espera um impacto econômico de longo prazo. Em geral, um em cada três (33%) entrevistados acredita que a economia se recuperará rapidamente quando a pandemia estiver sob controle; índice era de 30% em abril de 2020. Nos países “líderes”, apenas 28% das pessoas expressam o mesmo otimismo.
Na hora de consumir, 70% da população continua a avaliar mais de perto os preços em lojas, supermercados e shoppings em comparação com 64% que dizia fazer o mesmo no ano passado. Além disso, 58% afirmaram que ficam atentos às liquidações, número 10% maior que há 12 meses.
Novo cenário do varejo
Durante a pandemia, a grande maioria das pessoas fez menos de 25% das compras de abastecimento online. Experiências positivas online capturaram um novo e comprometido público. Metade (49%) dos entrevistados tiveram uma boa experiência em e-commerce de supermercados e 38% acreditam que conseguem uma variedade melhor de produtos no ambiente online. Mais de um em cada três prefere agora comprar mantimentos pela internet.
Outro ponto é que o localismo continua sendo importante. Metade (52%) da população presta hoje mais atenção à origem do produto do que antes da pandemia. Além disso, 68% preferem comprar em supermercados perto de casa e 64% consideram que as lojas locais são importantes para a comunidade.
Vivendo em quarentena
O comércio eletrônico tornou-se parte das vidas das famílias ao redor do mundo e é agora classificada como a atividade número 1 que as pessoas desempenham com mais frequência do que costumavam antes da pandemia. Em maio de 2020, a modalidade estava na quinta posição.
Outra mudança foram as intenções em torno dos “hábitos alimentares saudáveis”. Anteriormente classificada como a prioridade número 2 para ser mantida na vida pós-confinamento, agora caiu para a quarta posição, depois de compras online, aumento da higiene e passar tempo em casa com a família. Número 3 na lista de intenções de maio de 2020, passar tempo com os familiares permanece na mesma posição.
No entanto, as promessas de “desenvolvimento pessoal” perderam espaço. Originalmente número 4 na lista de comportamentos pretendidos para serem levados adiante feita em maio de 2020, caiu para o número 10 no ranking atual.
Voltando ao normal
A partir dos dados trazidos nesta 9ª onda de pesquisa, fica claro que, em países com um programa de vacinação mais avançado, a retomada da vida cotidiana está no horizonte. As pessoas têm menos ansiedade, se sentem mais seguras e estão mais abertas a voltar a se envolver com o mundo.
Este é um desenvolvimento bem-vindo, mas a perspectiva de longo prazo ainda é desafiadora para muitas pessoas. A transformação do setor varejista parece ter vindo para ficar, enquanto as intenções da população quanto à transformação pessoal durante o confinamento tendem a desaparecer.