Bombas em Brasília
Ausências sentidas provam que raio cai no mesmo lugar duas vezes
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emNa penumbra úmida de quarta, 13, as nuvens pesadas se juntaram como um manto carregado sobre a Praça dos Três Poderes, em Brasília. A chuva, insistente, despencou sobre o concreto imponente do Palácio do Planalto, do Supremo Tribunal Federal e do Congresso Nacional, preenchendo as sarjetas e ampliando o eco dos trovões no iluminado Eixo Monumental. Antevéspera das comemorações da Proclamação da República. O clima parecia agravar as tensões que pairavam no ar, com discussões acaloradas na Câmara e no Senado.
Mal chegou, a noite foi envolta em mistério com duas, três explosões. O fato foi antecipado: ‘Vamos jogar? Polícia Federal, vocês têm 72 horas para desarmar a bomba’. A mensagem, assinada por Francisco Wanderley Luiz, acentuava que ‘o jogo’ teria início às 17h48 desse mesmo dia 13, com o encerramento programado para o sábado, 16. Como não havia indicativo de hora, por certo pode haver prorrogação.
Desnecessário, aqui, apontar culpados. As máscaras caíram como caía a água do céu. Em meio à escuridão e à chuva, as sirenes cortavam a quietude, e as primeiras viaturas se aproximavam da cena com cautela. No ar, pairava uma aura de temor e incerteza, como se até a cidade, com sua forma geométrica de cimento e aço, tremesse diante do que está por vir.
A linha de investigação inicial, traçada de forma rápida e segura, aponta para velhas coincidências que transportam para o 8 de janeiro de 2023. Alguém baixou a guarda. Um terrorista ou um grupo extremista passaram despercebidos do radar das autoridades? Por certo uma facção que cresce à margem dos poderes constituídos, nutrida pelo descontentamento de alguns e pela ideologia distorcida que captura os mais vulneráveis. São especialistas em agir sob o negro das trevas.
Os agentes da Polícia Federal, encharcados até os ossos, examinaram a área frontal do Supremo e o estacionamento do Anexo IV. Encontraram fragmentos, fios retorcidos, resquícios de um aparelho que, segundo a perícia preliminar, havia sido montado com precisão inquietante. Agora é questão de honra saber o que se esconde por trás desse ato. Quem coordenou o ataque? A noite e a tempestade dificultaram o trabalho dos peritos. Eles sabem que cada segundo é precioso, que cada gota de água lava vestígios cruciais.
A investigação agora toma o ritmo de uma caçada. Quem mandou, quando mandou, por que mandou? O que apresentam as imagens das câmeras de segurança? Os peritos da Polícia Federal correm para remontar um quebra-cabeça onde as peças se misturam ao fracassado golpe de há quase dois anos. Ausências injustificadas serão estudadas com lupas. Ninguém acredita em coincidências. Mas fica difícil explicar que um raio não cai no mesmo lugar duas vezes.
No calendário de Francisco Wanderley Luiz, até sábado, faltam mais 48 horas. Há uma pergunta que precisa de resposta: o ataque foi um mero sinal de um tempo ainda mais tempestuoso para a República, ou apenas um eco de um grupo determinado apenas a tumultuar? Consultado, um respeitado representante da área da segurança pública garantiu que não se trata de um mero arruaceiro. E mais não disse. Sinalizou, porém, que nos corredores da sede da Polícia Federal, era possível sentir na madrugada desta quinta, 14, o peso de uma investigação que poderá mudar os rumos do feriado ou, quem sabe, do próprio país.