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Autobiografia é primaveril, mas a verdade é p&b

De todas as biografias, a menos confiável é justamente aquela em que contamos a nossa história. E isso ocorre até mesmo com os que se julgam ferrenhos amigos da verdade, já que, principalmente esses, omitirão os capítulos não tão heroicos de sua existência. Por isso, não confio em autobiografias, pois seriam como contos de fadas a nosso respeito escritos pelas nossas mães: nada de lembranças onde, literalmente, chutamos o pau-da-barraca.

Você já reparou que mentimos inclusive quando falamos de coisas que realmente aconteceram? Gostamos de acrescentar uma pitadinha de sal aqui, outra de pimenta ali, tudo para que a tal realidade ganhe contornos épicos e, então, todos fiquem admirados, Obviamente, a mentira está muito mais arraigada entre os homens, que a todo instante tentam se passar por heróis. Dessa forma, somos todos Garrinchas nas peladas, Bruces Lees nas tolas brigas em qualquer lugar, Einsteins nas provas da escola.

Isso tudo me lembrou uma vez que fui entrevistar o saudoso Adalberto, antigo goleiro do Botafogo, campeão carioca em 1957 contra o Fluminense naquela incrível final dos 6 x 2. Pois bem, ele me contou que havia sido companheiro de palestras do João Saldanha. Este, por sua vez, sempre falava sobre as inúmeras aventuras do Garrincha, mas também gostava de acrescentar algo aqui e ali para a história ficar ainda mais engraçada. Findo o causo, o João se virava para o Adalberto e perguntava: “Você lembra disso?” Tímido, o ex-goleiro simplesmente acenava positivamente com a cabeça. Todavia, quando os dois estavam sozinhos, surgia o seguinte interlúdio.

– João, mas nessa época eu nem estava mais no Botafogo.

– E daí? Meu amigo, o que importa não são os fatos, mas a história!

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