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Entrevista/Isabel Furini

Autora argentina acha aqui inspiração para sua obra

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Autor/Imagem:
Cecília Baumann - Foto Acervo Pessoal

A hermana Isabel Furini nasceu com um destino já traçado: escrever contos, poemas e muita literatura destinada ao público infanto-juvenil. Trocou sua Argentina dos idos de Evita Perón pela eterna cidade-jardim que é Curitiba. Suas obras literárias são destinadas aos mais diferentes segmentos.

A trajetória de Isabel, longa, é coroada de sucesso. Lendo a entrevista a seguir, feita por e-mail, será fácil conhecer um pouco mais da vida da escritora que fez do Brasil, ao fincar raízes no Paraná, sua segunda pátria.

Fale um pouco sobre você, seu nome, onde nasceu, onde mora, sobre sua trajetória como escritora.

Meu nome é Isabel Furini, nasci em Buenos Aires, Argentina, em 1949, mas há muitos anos que moro em Curitiba, PR, Brasil. Sempre amei a poesia. Escrevo poemas desde criança. Tenho livros publicados em vários segmentos (poesia, contos, ensaios e para o público infantil). A obra “Os relógios de Dalí” foi analisada e apresentada como dissertação de Mestrado na área de Literatura. Minha trajetória é longa. Publiquei meu primeiro livro de poesia em 1983. O livro mais recente é “Dançando entre as estrelas”, de 2023, pela editora Nogue.

Como a escrita surgiu na sua vida?

A poesia surgiu como divertimento infantil e converteu-se em uma grande paixão.

De onde vem a inspiração para a construção dos seus textos?

Esse é um assunto complicado, pois são várias vertentes. Um poema pode surgir de uma palavra, da leitura de um texto de jornal, da contemplação de um quadro… O livro “Os Corvos de Van Gogh” surgiu do impacto que essa maravilhosa obra artística teve na minha mente.

Como a sua formação ou sua história de vida interferem no seu processo de escrita?

A Filosofia acompanha-me, especialmente os filósofos pré-socráticos Heráclito, Parmênides, Demócrito, e os socráticos, como Platão e Aristóteles, fascinam-me. Heráclito está de nosso lado falando da impermanência do mundo, afirmando que “somos e não somos”. Essa dualidade faz perceber que em cada ser humano a razão e a emoção estão jogando de puxar corda… Até na escolha de um candidato podemos percebê-la: João é um bom candidato, mas sinto mais simpatia por Pedro. Lembro-me de uma aluna que disse em sala de aula: sei que não era o melhor candidato, mas ele é tão lindo, que tive que votar nele… Isso revela que a tecnologia e a sofisticação de nossa época são facilmente anuladas pela emoção e pelo instinto. A poesia tem a função de ajudar-nos na decantação de nossas emoções. E a emoção estética é, talvez, a mais sublime de todas elas.

Quais são os seus livros favoritos?

São muitos… O Livro de Areia, de Jorge Luis Borges; Vinte Poemas de Amor e uma Canção Desesperada, de Pablo Neruda; Todas as Horas e Antes: poesia reunida de Neide Arcanjo; Infinito Presente, de Helena Kolody.

Quais são seus autores favoritos?

Os poetas Jorge Luis Borges, Pablo Neruda, Neide Arcanjo, Ferreira Gullar, Amado Nervo, Helena Kolody e Jéssica Iancoski.

O que é mais importante no seu processo de escrita? A inspiração ou a concentração? Precisa esperar pela inspiração chegar ou a escrita é um hábito constante?

Inspiração ou concentração? No momento de escrever penso que o mais importante é a inspiração. Depois, quando é preciso ler e reler o poema para fazer as correções, o mais importante é a concentração.

 Qual é o tema mais presente nos seus escritos? E por que você escolheu esse assunto?

O tempo… aparece em muitos de meus poemas. O tempo, o velho Cronos é poderoso e assustador. Quem não teme o passo do tempo? Alguns temem as rugas do rosto, outros temem a morte, mas o tempo desperta o interesse de poetas e cientistas. Somos prisioneiros do tempo.

Para você, qual é o objetivo da literatura?

Permite visualizar novos horizontes. A literatura é instigante, provoca a imaginação, comove emocionalmente e faz refletir. Pode divertir e ensinar.

Você está trabalhando em algum projeto neste momento?

Sim, em um novo livro de poesia.

Quais livros formaram quem você é hoje? O José Seabra sempre cita Camilo Castelo Branco como seu escritor predileto, o Daniel Marchi tem fascinação pelo Augusto Frederico Schmidt, e o Eduardo Martínez aponta Machado de Assis como a sua maior referência literária. Você também deve ter as suas preferências. Quem são? E há algum ou alguns escritores e poetas contemporâneos que você queira citar?

Meus amados poetas e mestres na minha adolescência foram Amado Nervo e Rubén Dario. Lembro-me que vi uma fotografia de Amado Nervo em um livro e cheguei a sonhar com ele. No sonho, ele disse que a poesia é como a luz que preenche o universo.

Como é ser escritor hoje em dia?

É difícil, pois com a democratização da escrita muitas pessoas sem vocação literária entram na área para engrandecer o ego, mas, se não têm vocação, em pouco tempo encontram outro passatempo e afastam-se da literatura.

Tem alguma coisa que eu não perguntei e você gostaria de falar?

Gostaria de falar sobre os chamados “erros”. Por exemplo: “errou nesse poema”. Talvez nem exista erro em poesia…
Affonso Romano de Sant’Anna, no poema dedicado ao pintor Picasso, aborda o assunto de um artista “errar”. Vejamos um fragmento do poema: “Picasso erra quando pinta e erra quando ama. Mas quando erra, erra violenta e generosamente com exuberante arrogância […]”.

Penso que, ao lermos poemas, deveríamos evitar a afirmação “esse poema é ruim”. Mas, podemos dizer: “eu não gostei desse poema”. Não gostei, é isso, uma preferência. Dizer que um poema é ruim, é sentir-se superior e julgar. E os poemas podem desagradar a um leitor e comover e apaixonar a outro leitor.

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