A repetição sistemática com que vêm ocorrendo os atentados terroristas de cunho extremista islâmico, seja por parte da Al Qaeda, na década passada, ou atualmente do EI e outros grupos, leva ao questionamento do por que –apesar de tropas treinadas, armas modernas e novas tecnologias– não se tem conseguido debelar tais ações. Isso permite questionar, inclusive, se de fato o terrorismo pode ser vencido, com base na conjuntura atual dos atentados.
Em primeiro lugar, é preciso dizer que as autoridades internacionais ainda não sabem como lidar com um conflito assimétrico, onde não existe um país envolvido e no qual seus combatentes se misturam à paisagem urbana com naturalidade. Fomos condicionados por séculos a lidar com guerras regulares, exércitos tradicionais, comandos estabelecidos em regiões. Basta relembramos os casos dos EUA, que não conseguiram êxito no Vietnã, e dos soviéticos, na primeira guerra do Afeganistão. A retirada de tropas da coalizão do Iraque e do Afeganistão também faz parte desta percepção.
Um segundo fator que também é pouco compreendido pelo Ocidente é a disposição dos terroristas de perderem a vida em suas ações, que faz parte da crença que deverão ir para o paraíso quando engajados em eliminar os inimigos de sua ideologia. Isto soa incompreensível pois a preservação da vida é o maior valor ocidental, inclusive em operações militares. Suicídios em massa, baseados em crenças extremistas e apocalípticas, não são raros, e a história traz exemplos sinistros.
Por último, podemos evocar a questão da moral e da ética ocidentais, nas quais não são permitidos, tampouco aceitos, atos como a queima de pessoas vivas, crucificações e decapitações –práticas consideradas como tortura pelo ordenamento jurídico internacional. Contudo, terroristas, agindo por anomia –ou seja, à margem de qualquer legislação conhecida–, desconsideram essas questões. Pelo contrário, as usam como forma de demonstração de poder e intimidação.
Tais métodos têm o objetivo de desestabilizar as sociedades ocidentais e obrigar a perpetuação de ações semelhantes por parte destas, o que só reforça os sentimentos de ódio e vingança, num ciclo interminável de violência. Esse contexto já é reconhecido pelo Conselho de Segurança da ONU que, por resolução, admite que o terrorismo não pode ser vencido exclusivamente com o uso da força bélica.
Restaria então, como medida complementar, o auxílio financeiro aos países considerados “falidos”, onde o recrutamento torna-se mais evidente e as pessoas estão mais propensas a abraçar qualquer ideologia que prometa retirá-las do status em que se encontram, seja nesta ou em outra vida. Isso torna-se emblemático, pois a crise financeira da Comunidade Europeia e de outros países ainda ronda os governos e, em alguns casos, ameaça seus serviços básicos.
Assim, essa questão mostra-se complexa e atualmente insolúvel. A única certeza que temos é de que o aumento das operações militares na Síria deve acarretar novos atentados como os que ocorreram em Paris. É uma alternativa, embora não a mais adequada, pois quase quinze anos da chamada guerra ao terrorismo, lançada pelo governo de George W. Bush após os atos de 11 de setembro, trouxeram poucos resultados, como se constata.
André Luis Woloszyn