Ubiratan Rocha era um desses tipos austeros, que passam facilmente a ideia de ilibação total. Todos o tinham em mais alta consideração, ainda mais porque, pelo menos nos últimos quase 30 anos, Ubiratan tenha sido visto praticamente apenas de terno de linho fino, sempre impecável, com esmero até na hora de manter os vincos.
Do alto do seu quase 1,90 m, lá vinha o Ubiratan, que nas festas da família sempre era visto com certa admiração até pelos mais novos. Afinal, ele, que era carinhosamente conhecido como tio Biba, sempre trazia nos bolsos do paletó guloseimas, que eram disputadas quase a tapas pelas crianças. Era uma loucura aquela situação, como se fossem piranhas querendo cada qual seu naco.
Pedrinho, talvez o sobrinho mais curioso daquela trupe devoradora de doces, sempre quis seguir os passos, aparentemente gloriosos, do tio Biba. Pois é, ele também desejava ser aviador. Não um simples piloto, mas um como o seu herói, que, segundo rezava as vastas histórias, já tivera seu próprio avião durante a juventude.
De todas as histórias que havia escutado, a que mais gostava era sobre as inúmeras viagens que o tio Biba havia feito para os Estados Unidos desde o início dos anos 1970 até meados dos anos 90. Isso até que, certo dia, quando o Pedrinho cresceu e, finalmente, teve uma conversa mais aprofundada com o pai sobre o tio Biba.
– Pai, me conta mais sobre as aventuras do tio Biba.
– O que você quer saber?
– Fale sobre as viagens que ele fazia para os Estados Unidos.
– Ah, tá! Nesse tempo, o tio Biba fazia até quatro viagens por mês para a terra do tio Sam.
– Tudo isso?
– Sim! É que nessa época ele contrabandeava aves daqui para lá – finalmente contou o pai, que logo percebeu os olhos de total incredulidade do filho. Antes o segredo não tivesse sido revelado.