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Um musical

Baby do Brasil e Frenéticas viajam aos anos 70

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Ubiratan Brasil

“É como se eu fosse uma adolescente e parasse tudo o que estivesse fazendo, botasse uma mochila nas costas e saísse pra passear com minhas amigas.” Assim Baby do Brasil descreve a sensação de dividir o palco com As Frenéticas em 70? Década do Divino Maravilhoso – Doc. Musical, em cartaz no Theatro Net São Paulo. “Elas são divertidas, mas o que mais me impressiona é que são mulheres de personalidades muito fortes e distintas.” Fruto dos anos 1970, década conturbada e de difícil classificação e que é tema desse espetáculo, o segundo almanaque da tetralogia criada e programada Frederico Reder e Marcos Nauer, e iniciada com 60! Década de Arromba, estrelada por Wanderléa em 2016.

Assim, se o primeiro trabalho mostrava as mudanças radicais do planeta naquela época, agora é a década de incerteza, graças aos inúmeros conflitos e dualidades, explosões de censura, guerras e criatividade. “Os anos 70 foram marcados pela busca da liberdade, juventude e quebra de tabus”, aponta Nauer. “Nessa época, também surgiu a defesa do meio ambiente, enquanto as corridas espacial e armamentista se encerraram. Mulheres assumiram posição de liderança e os movimentos de minorias da década anterior se tornaram mais fortes. Música, moda e comportamento unidas fizeram a black music, o reggae, o punk e, claro, a disco music mudar para sempre a atitude de jovens e adultos.”

“O que dançamos, lemos e assistimos hoje tem origem nos anos 60 e 70”, pontua Baby do Brasil que, a convite do Estado, se encontrou com as frenéticas Dhu Moraes, Leiloca Neves e Sandra Pêra, em um hotel de São Paulo. Lá fora, outra chuva castigava a cidade, mas, ali dentro, em meio a rodadas de café e chá, as lembranças faziam a conversa fervilhar. “Não tínhamos ideia do sucesso que faríamos, pois só pensávamos em cantar, sem a preocupação com o marketing que depois viria alavancar carreiras como a da Madonna, que é leonina”, comenta Leiloca, cujo interesse por astrologia continua a ajudá-la a entender a motivação das pessoas.

As Frenéticas, é bom lembrar, são fruto da união das seis atendentes da Frenetic Dancin’ Days, discoteca que funcionou apenas durante quatro (“três”, corrige Sandra) meses de 1976. “Queríamos cantar e conseguimos a autorização do Nelsinho (Motta) e dos outros proprietários para nos apresentarmos durante a madrugada”, explica Dhu. Ela e as duas amigas continuam se apresentando com enorme sucesso. “Além da irreverência, nossa marca era uma teatralidade, da qual eu me orgulho de ter em família”, completa Sandra, cuja irmã, Marília Pêra, foi uma das maiores atrizes brasileiras, e o pai, Manuel, é considerado uma referência teatral do início do século passado. “Uma coisa, porém, unia todas as frenéticas: as decisões só surgiam por consenso.”

A pluralidade era uma referência do sexteto. “Por serem tão diferentes, era possível encontrar todo tipo de mulher nas Frenéticas”, observa Reder. “Uma marca da diversidade que hoje se tornou fundamental.” É esse também o tom do espetáculo, que conta, além das quatro cantoras, com 24 atores, uma orquestra de dez músicos, 20 cenários, 300 figurinos, e ainda mais de cem profissionais que atuam nos bastidores. Para lembrar os principais fatos que marcaram os anos 1970 na política, moda, comportamento, esportes e artes em geral, Reder e Nauer selecionaram mais de 250 músicas brasileiras e internacionais, divididas em duas partes, como num disco de vinil, em lado A (1970-1976) e lado B (1977-1979) – muitas das canções são apresentadas em pequenos fragmentos.

O musical estreou no Rio no ano passado, mas sem a presença de Baby do Brasil, que não conseguiu abrir uma brecha na agenda pois iniciava a turnê de seu show Música Extravagante. “Só consegui para a temporada paulista”, conta Baby, que assistiu ao espetáculo ao lado de Reder, que lhe apontava os momentos originalmente criados para ela. “Enquanto via os números, já imaginava como eu faria.”

A presença de Baby mantém o equilíbrio da peça originalmente pensado por seus criadores, pois, se As Frenéticas remontam à febre das discotecas, fenômeno que estourou nas pistas de todo o mundo há exatos 40 anos, Baby representa outra vertente da MPB, puxando às vezes para um tom mais jazzístico. “Enquanto As Frenéticas se consagraram como ícones das pistas, Baby traz uma música brasileira em trânsito: dos Novos Baianos e seus clássicos como Acabou Chorare, considerado um dos mais importantes discos já lançados, até a carreira solo, marcada por sucessos como a canção Menino do Rio, que até virou tema de novela (‘Água Viva’, de 1980)”, explica Reder.

Baby conta que a música nasceu por acaso – já no final da gravação do segundo disco solo, Pra Enlouquecer, ela se encontrou casualmente com Caetano Veloso e lhe cobrou uma música, pois nunca tinham trabalhado juntos. “Foi um daqueles papos nada sérios, mas, na manhã seguinte, Caetano me ligou: ‘Fiz uma canção pra você, manda alguém buscar a fita’. Era Menino do Rio. Eu só tinha mais três horas de estúdio, mas fiz duas improvisações e Pepeu (Gomes, seu marido na época) criou rapidinho aquele riff do início. Gravamos e deu no que deu.”

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