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Bagagem de um setentão vive cheia de inspiração

Cadu veio ao mundo, como está no registro de nascimento, lá pelos idos dos anos 40 do século passado. O primeiro berro foi em uma maternidade de Niterói, no Rio de Janeiro. Já as primeiras letras chegaram bem depois, com ele tipo setentão na Paulicéia. Mas valeu a pena esperar. Em sua vida profissional, uma esticada até Portugal, onde encheu a bagagem com novas experiências.

Hoje ele mora em São Paulo, onde se inspira, em meio a uma verdadeira selva de pedras, para colocar na telinha do Notebook o que lhe vem na cabeça. Colaborador assíduo de Notibras, desde o lançamento da editoria Café Literário, esse cidadão do mundo abriu espaço em sua agenda para uma deliciosa entrevista. Os melhores trechos do bate-papo podem ser lidos a seguir.

Fale um pouco sobre você, seu nome (se quiser, pode falar apenas o artístico), onde nasceu, onde mora, sobre sua trajetória como escritor.

Meu nome é Carlos Eduardo Matos, sou chamado de Cadu desde a adolescência. Nasci em Niterói – RJ, em 1946, moro em São Paulo – SP, desde 1969. Sou um escritor tardio, escrevi meus primeiros textos em 2019.

Como a escrita surgiu na sua vida?

Em 1969, advogado recém-formado, vim para São Paulo, para trabalhar como redator na Abril Cultural. Desde então, não parei mais. Guardei meu diploma de Direito e enveredei pelo ramo editorial: trabalhei como redator, editor, diretor de redação, tradutor, preparador de texto e revisor, sempre escrevendo. Fiz uma incursãozinha como professor universitário, em Évora (Portugal) e na FGV- SP, mas não era a minha praia. Como falei, só em 2019 produzi meu primeiro texto publicado, sobre minha experiência como professor em Évora, tendo como pano de fundo a revolução portuguesa.

De onde vem a inspiração para a construção dos seus textos?

Às vezes, de uma frase, “isso dá conto” é a versão literária de “isso dá samba”; outras vezes, de episódios da infância, piadas, situações divertidas que imagino… E, não raro, os temas simplesmente baixam.

Como a sua formação ou sua história de vida interferem no seu processo de escrita?

Produzi vários textos ambientados nas redações de revistas e, ultimamente, tenho focado a velhice, com humor e/ou melancolia..

Quais são os seus livros favoritos?

Grande Sertão: Veredas, Memórias póstumas de Brás Cubas. Jangada de pedra, A morte e a morte de Quincas Berro d’Água.

Quais são seus autores prediletos?

Eça de Queiroz, Machado de Assis (o da ruptura iniciada com Memórias póstumas de Brás Cubas), José Saramago, Erico Verissimo, Jorge Amado, Luiz Fernando Verissimo. Em poesia, Drummond, Bandeira e Pessoa.

O que é mais importante no seu processo de escrita? A inspiração ou a concentração? Precisa esperar pela inspiração chegar ou a escrita é um hábito constante?

Tenho o hábito de escrever, mas inspiração é fundamental.

Qual é o tema mais presente nos seus escritos? E por que você escolheu esse assunto?

Divido meus contos basicamente em eróticos (por vezes, bem escrachados; chamo-os de pornochanchadas literárias), bem-humorados e de melancolia. O humor e pitadas do fantástico se entrelaçam, em graus variáveis, na maioria deles.

Para você, qual é o objetivo da literatura?

Brincar com palavras, registrando transformações na linguagem; retratar uma época; mobilizar para uma causa e divertir. No meu caso, é algo indispensável.

Você está trabalhando em algum projeto neste momento?

Não, apenas escrevendo e publicando contos.

Quais livros formaram quem você é hoje? O José Seabra sempre cita Camilo Castelo Branco como seu escritor predileto, o Daniel Marchi tem fascinação pelo Augusto Frederico Schmidt, e o Eduardo Martínez aponta Machado de Assis como a sua maior referência literária. Você também deve ter as suas preferências. Quem são? E há algum ou alguns escritores e poetas contemporâneos que você queira citar?

O primeiro foi o Eça de Queiroz de A relíquia e As farpas, aprendi com ele que o humor pode estar presente na literatura. Aos 13-14 anos, descobri Drummond e foi um deslumbramento. Machado de Assis, Guimarães Rosa e Saramago vieram bem depois.

Como é ser escritor hoje em dia?

Não sei, não me considero escritor, no máximo um amador de algum talento.

Qual a sua avalição sobre o Café Literário, a nova editoria de Notibras?

Achei bem interessante. Já enviei 13 textos, escrevi 420 até hoje. Ou seja, tem muito bambu, vou disparar muitas flechas. Estou à espera das normas do concurso que Notibras/Café Literário vai promover

Tem alguma coisa que eu não perguntei e você gostaria de falar?

Publiquei três livros: A outra – contos eróticos e fantásticos, pela Terra Redonda e, pelo Clube de Autores, o romance Shoshana e o infantojuvenil Gata de foles e outras fábulas.

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