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Ano 46

Ballet Stagium se recria para tentar sobreviver

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Helena Katz

Vivendo uma crise que pode resultar na sua extinção, o Ballet Stagium resiste da forma que apenas o artista sabe fazer: criando. Apresenta uma nova criação de Décio Otero, seu diretor e coreógrafo residente, “Preludiando”, no Sesc Bom Retiro, nos dias 22 e 23. O dia 23 de outubro é quando se inicia o 46º ano de um trabalho dedicado a apresentar o Brasil para os brasileiros.

“Preludiando” parte de um compositor brasileiro de quem as referências parecem injustamente reduzidas ao nome de um auditório, em Campos do Jordão, e um teatro, em Brasília: Claudio Santoro. “O desconhecimento da sua produção é ainda maior do que a de Ari Barroso”, diz Décio, referindo-se ao músico que homenageou na montagem do ano passado, Canto da Minha Terra, dançada no final de setembro, no Teatro Sérgio Cardoso. Em uma mini temporada de três dias, promovida pela APAA – Associação Paulista dos Amigos da Arte, foram lançadas duas campanhas, ainda em curso, porque a ameaça de extinção é real.

A companhia pede adesões a um crowdfunding. Por enquanto, os fundos obtidos garantem a sua sobrevivência somente até dezembro A outra iniciativa tem como propósito transformar o Stagium em Patrimônio Nacional. Das 10 mil assinaturas necessárias, foram obtidas pouco mais de 2.700 até o momento.

No palco nu de “Preludiando”, estão os 12 bailarinos do elenco, que dançam com uma garra da qual emana um compromisso muito profundo, pouco usual hoje em dia. Afinal, vivemos um tempo no qual boa parte da dança que se vê nos palcos resulta de projetos episódicos, sem continuidade. O compromisso desses 12 bailarinos não se refere somente ao zelar pelo que cada um faz em cena (que já seria louvável), mas se estende para a responsabilidade com a companhia que cada um deles ajuda a manter ativa. Respondem à irregularidade de seus salários dançando com a garra daqueles que sabem o valor do que estão mostrando.

“45 anos depois, voltamos para a simplicidade”, explica Décio, que dirige a companhia ao lado de Márika Gidali. Ela complementa: “Estamos resgatando esse ser sagrado, que é o bailarino, trabalhando com eles o valor de cada movimento, porque dirigir quando se tem um tema ou canções, é mais fácil do que trabalhar a partir o que estou chamando de “estado de espírito”, algo que nos une de um mesmo lado. Desde o começo, Décio frisava que o foco seria o bailarino e que desejava chamar atenção para o seu trabalho em sala de aula, daí o figurino ser com as malhas”.

Para a trilha sonora, editada por Marcelo Aharon Gidali, Décio Otero escolheu, além de alguns prelúdios, também duas composições de Paulistana e um fragmento da obra mais conhecida de Claudio Santoro, Ponteio. “A música dele poderia levar para um jeito bitolado de ligá-la aos passos. Por isso, fiquei insistindo que tínhamos que brincar, sem jogar fora o que viemos construindo nesses anos todos”. A obra tem direção teatral de Márika Gidali e começa com uma projeção sobre a vida de Santoro, que conta com a locução de André Falcão. O desenho de luz é de Décio Otero e Marcelo Aharon Gidali.

Em meio a uma crise de grandeza inédita, como o Stagium conseguiu realizar uma nova criação? “Gastamos apenas R$ 1 mil, o valor referente à compra das malhas”, informa Fábio Villardi, bailarino que colabora com a produção e a pesquisa da companhia.

“A nossa resposta a tantas crises que já enfrentamos sempre foi o trabalho, mas agora, pela primeira vez, estamos pedindo algo que é de nosso direito. Direito ao respeito do que o nosso percurso construiu na dança brasileira, direito de continuar a memória desse percurso. Não estamos pedindo para nós, porque aqui não existe nenhum coitadinho, apenas profissionais íntegros, que lutam por uma causa. Uma causa pela qual dedicamos as nossas vidas. E essa causa, além da solidariedade das pessoas ou instituições, só pode ser mantida, a longo prazo, se contar com o apoio de um patrocinador”.

Márika se refere ao apoio que o Stagium recebeu do Sesc, que comprou 10 espetáculos para circular pelos CEUS, e da Associação Paulista dos Amigos da Arte – APAA, que ofereceu o Teatro Sérgio Cardoso para uma temporada de 3 dias no mês passado. Com eles, o Stagium conseguirá seguir até dezembro.

No dia 22 de outubro, às 23h, a TV Cultura lança um documentário sobre os 45 anos do Ballet Stagium, boa oportunidade para conhecer a sua grandeza e se engajar nas campanhas pela sua continuidade. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Serviço
Preludiando
Sesc Bom Retiro (Al. Nothmann, 185)
Telefone (11) 3332-3600
Sábado (22), 21h. Domingo (23), 18h
R$ 6 e R$ 20

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