Do alto de sua sabedoria, Abraham Lincoln disse certa vez que a mentira habitual acaba tornando a verdade escassa. Presidente dos Estados Unidos no século XIX, ele ainda hoje é lembrado pelos famosos discursos que inspiraram e inspiram muitos mandatários. Muitos, menos o do Brasil. Jair Messias Bolsonaro jamais entenderia a profundidade da frase “Ninguém é suficientemente competente para governar outra pessoa sem o seu consentimento”. No entanto, nós, que desejamos um Brasil melhor e para todos, podemos alertá-lo. Chega de mentiradas, presidente. Como acreditar em um líder que está sempre disposto a negar tudo aquilo que não quer compreender? Saiba que mentir para outra pessoa é negar a verdade a si mesmo.
Tenho desgosto do país que será herdado pelo seu sucessor. Digo seu sucessor, porque cada vez acredito menos em sua vitória. Tenho ainda mais compaixão de seus apoiadores, todos dependurados no tênue fio de uma popularidade que nunca foi real. Por conta do fanatismo grotesco a que foram submetidos, eles não entendem, mas como gostaria que entendessem que mais perigoso do que contestar a verdade é acreditar em mentiras. Estou convicto de que, de tempos em tempos, o ser humano precisaria ser estudado. Talvez pudéssemos alcançar explicações, por exemplo, sobre a razão de algumas pessoas se imaginarem colhendo o que não plantaram e ainda se achando no direito de reclamarem do resultado da colheita.
Pensamentos filosóficos à parte, a pífia reunião do presidente com os embaixadores não serviu apenas para que ele esculhambasse o sistema eleitoral pelo qual é eleito há mais de 30 anos. Também ajudou a mostrar ao mundo que o francês Charles de Gaulle tinha razão quando disse, em 1962, no conflito conhecido como Guerra da Lagosta, que o Brasil não é sério. O próprio Bolsonaro confirmou essa tese. A nação que ele apresentou aos diplomatas é pior do que uma republiqueta de quinta categoria, mais mal cheirosa do que a poeira da bosta de um cavalo manco. De forma consciente e cristalina, o mito detonou a pátria que comanda, colocando-a como uma província desprezível, daquelas que frauda o voto soberano do povo. Trágico não fosse cômico. Afinal, acredito que poucos ou nenhum dos convidados acreditou em uma linha do que foi mostrado.
O que poderia ter sido um encontro para negociar propostas para acabar com o desemprego e a fome no maior país da América Latina, transformou-se em um majestoso mico da história brasileira recente. O erro na grafia do termo briefing (guia ou roteiro de apresentação) não foi a falha mais grosseira da fracassada e bizarra conferência. Grosseiras foram as repetitivas mentiras apresentadas pelo mandatário brasileiro sobre as urnas eletrônicas. Além de cansativas, ultrapassadas, chatas e desprovidas de provas, as lorotas não poderiam ter outro caminho. Foram parar nas redes sociais como memes engraçados e autoexplicativos.
É o triste fim de um chefe de Estado que, mais uma vez, enlameou em rede nacional a já maculada imagem da república que supostamente comanda. Triste da nação cujo presidente não a respeita e a banaliza publicamente. Pior fez com ele mesmo. Se negar a aceitar a verdade, apesar dos fatos, não é questão de ignorância, mas um problema de conduta. Além de perverso, antiético e asqueroso, produzir, gerar e insistir na divulgação de informações falsas é deplorável. Mais indigno é desconstruir o país que governa, desacreditando seu sistema eleitoral. Nada de anormal para quem está acostumado a esse tipo de ação, para quem faz disso um prazer. Que vantagem têm os mentirosos, além de não serem acreditados quando dizem a verdade? Sinceramente, sei lá.
*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978