Aquilo foi uma surpresa para Mauro, que há tempos morava quase em frente ao antigo Bar do Alemão. Bugre, o proprietário, branco dos olhos azuis, cuja fama de ser ríspido com os fregueses corria toda a quadra e parte da Asa Norte, era de poucas palavras. A surpresa? Bem, aconteceu durante uns dos raros diálogos entre ele e o comerciante.
— Bugre, você nasceu em qual região da Alemanha?
— Nunca estive na Alemanha.
— Não? Como assim? Você não é alemão?
— Sou polonês.
Aturdido que ficou, Mauro nem perguntou o motivo do estabelecimento se chamar Bar do Alemão. Somente dois dias após aquela conversa é que se deu conta de tamanha incongruência. Tanto é que não resistiu e, logo pela manhã, foi até o local com a desculpa de comprar algumas cervejas.
— Bugre, por que você escolheu o nome Bar do Alemão?
— Porque quis.
— Mas não teve um motivo?
— O motivo é porque eu quis e pronto.
Sem ânimo para discussão, ainda mais àquela hora da manhã, Mauro pagou pela bebida e, já saindo do boteco, passou pelo Chico, o garçom.
— Mauro, não leve pro lado pessoal. É que o Bugre é que nem pimenta.
— Que nem pimenta?
— Sim. É que poucos gostam e quase ninguém aguenta. Mas ninguém deixa de vir aqui por conta dessas bobagens.
………………….
*Eduardo Martínez é autor do livro “57 Contos e Crônicas por um Autor muito Velho”.