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Barack Obama, o opressor. Está caindo a máscara de um fariseu

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Assente a poeira do tempo atual, o que ficará na Historia da passagem pelo poder de Barack Obama no início do século XXI quando o fim da hegemonia dos EUA começava a ser transparente?

Creio que a imagem do homem e do estadista será muito negativa. Admito que será responsabilizado pelas gerações futuras no mundo e no seu próprio país pelo agravamento de uma estratégia imperial criminosa que empurrou a humanidade para uma crise civilizacional que ameaça a sua continuidade.

Mas nestes dias, nos países da União Europeia, a imagem de um Obama inexistente foi tão profundamente assimilada por milhões de pessoas, de Lisboa a Budapeste, de Londres a Varsóvia, que é muito difícil persuadir a maioria de que o atual presidente dos EUA é o oposto do cidadão exemplar a quem a Academia de Oslo atribuiu o Prémio Nobel da Paz.

Uma campanha massacrante, de âmbito mundial, fabricou e difundiu a imagem de um Obama disposto a mudar quase tudo nos EUA e a promover a paz no mundo, um político de matizes revolucionários.

O senador Barack Obama chamou a atenção ainda jovem por ser um homem muito inteligente, ambicioso, grande orador. Candidato pelo Partido Democrata soube, em plena crise, capitalizar o descontentamento da maioria do eleitorado, com um discurso progressista que sintetizou as aspirações dos mais pobres, da classe media, duramente atingida pelo escândalo dos subprimes, das minorias raciais. Atacou Wall Street, responsabilizou os bancos e as grandes transnacionais, pelos sofrimentos das vítimas da engrenagem. A sua famosa frase yes, we can (sim, nós podemos) as admoestações ao Congresso, as denúncias da corrupção na burocracia de Washington, as críticas às guerras do Iraque e do Afeganistão, a promessa de uma política diferente, orientada para a Paz foram decisivas para a grande vitória eleitoral que alcançou.

Uma onda de esperança varreu os EUA.

O fato de ser negro contribuiu também para que os intelectuais progressistas, incluindo muitos comunistas, admitissem que o país poderia estar em vésperas de uma viragem.

Entretanto, para surpresa da maioria, a sua campanha foi generosamente financiada pelo grande capital. Wall Street conhecia o homem; as suas críticas e promessas e a sua oratória populista não impressionaram a Finança.

Os senhores do capital agiram com inteligência.

Instalado na Casa Branca, Obama esqueceu, engavetou ou violou a maioria dos compromissos assumidos.

Não encerrou o Presidio de Guantánamo, manteve legislação repressiva de Bush, promulgou uma lei que na prática autoriza a tortura e outra sobre a prisão de suspeitos de ligação com presumíveis terroristas (diploma que no dizer de Michel Chossudovsky confere ao Estado um caráter totalitário), e chamou para o governo e cargos da sua confiança políticos e economistas intimamente ligados à engrenagem de Wall Street.

UMA POLITICA EXTERNA IMPERIAL E AGRESSIVA

A nomeação de Hillary Clinton para o Departamento de Estado foi o prólogo de uma política internacional profundamente reacionária.

A esposa do ex-presidente conseguiu o que se tinha por impossível. Imprimiu à sua ação um estilo mais agressivo e belicista do que o de Condoleeza Rice.

Obama apoiou a sua defesa do sionismo, as suas críticas desabridas à China, a sua indisfarçável hostilidade ao mundo islâmico.

Uma das primeiras decisões estratégicas do Presidente foi o envio de mais de 100 000 militares para o Afeganistão. Não hesitou em apresentar como prioridade a vitória na guerra de agressão ali iniciada por Bush filho. O resultado negou o projeto. Posteriormente, o fracasso de sucessivas ofensivas – dois comandantes regionais foram demitidos – desembocou no compromisso de retirar todas as tropas estadunidenses ate final de 2014. Mas, afinal, vão ali permanecer muitos milhares de soldados.

Hoje, as forças que combatem no país os ocupantes norte-americanos e a OTAN controlam quase todo o território com exceção de Kâbul e das principais cidades.

Quanto à produção de opio aumentou muitíssimo desde a invasão em 2001.

A agressão à Líbia, também concretizada invocando a defesa dos direitos humanos e o amor pela liberdade e a democracia, foi na realidade uma guerra imperial, preparada com antecedência com características genocidas. De acordo com o projeto, viabilizado pelo Conselho de Segurança da ONU, o seu desfecho após a destruição do país e o assassínio de Muamar Khadafi seria um “regime democrático”, tutelado por Washington, pelos aliados da União Europeia e pelas grandes empresas petrolíferas.

Mas as coisas não correram de acordo com o desejo de Obama.

Os governos fantoches instalados pelos ocupantes perderam rapidamente o controlo do país. A situação existente é anárquica, com diferentes milícias envolvidas em combates fratricidas. A desordem atingiu tais proporções que uma dessas milícias tribais ocupou em Trípoli edifícios da Embaixada dos EUA cujo pessoal diplomático havia prudentemente abandonado o país.

No Iraque, uma campanha estrondosa anunciou ao mundo que, cumpridos os objetivos da invasão do pais, e instalado em Bagdá ´”um regime democrático estável”, os EUA, honrando uma promessa, tinham retirado, finalmente todas as tropas de combate.

Outra mentira grosseira. Dezenas de milhares de mercenários, controlados por empresas mafiosas dos EUA, substituíram as forças do Exercito.

A situação em Bagdá e nas províncias é caótica. As últimas eleições, como as anteriores, foram uma farsa. Mas a recusa do primeiro-ministro Nouri Al Malik em abandonar o poder gerou uma crise, marcada por cenas próprias de um teatro de absurdo que só findou com um ultimato de Washington. A violência é endémica em todo o território.

Na Síria, Obama tentou repetir, recorrendo a um método diferente, a “operação” desestabilizadora que na Líbia tinha por objetivo o derrubamento do regime.

A fase inicial foi uma campanha mídiática montada a nível mundial para demonstrar que o país estava submetido a uma feroz ditadura. O presidente Bashar al Assad foi demonizado, apresentado como um monstro responsável por crimes contra a humanidade.

A segunda fase foi o desencadeamento de uma “rebelião”. Grupos de mercenários, armados e financiados pelos EUA, por Israel e pela Turquia, atacaram o exército, destruíram instalações públicas, ocuparam cidades e aldeias.

Crimes cometidos pelos “rebeldes” foram atribuídos pelos governantes e pela mídia dos EUA e da União Europeia às forças armadas sírias.

Obama chegou a anunciar num discurso inflamado, que tomara a decisão de bombardear a Síria para instalar no país a democracia e as liberdades.

Mas o contexto diferia do líbio. A grande maioria do povo sírio e o seu exército infligiram severas derrotas às organizações terroristas, tuteladas por Washington. E a firmeza da Rússia forçou Obama a recuar.

Essa derrota política coincidiu com outra. O governo norte-americano, que semanas antes multiplicava as ameaças ao Irã, e aprovava pacotes de sanções por Teerã não ceder às suas exigências, mudou subitamente de tática e discurso e decidiu abrir negociações com o governo do presidente Hassan Rohani.

OBAMA E O CAOS UCRANIANO

Numa demonstração de irresponsabilidade, Barack Obama tomou iniciativas na frente europeia que agravaram as relações com a Rússia, já muito tensas, no momento em que no Oriente Médio acumulava derrotas.

O cenário escolhido para o confronto foi à Ucrânia. Não soube extrair lições do fracasso georgiano.

Tudo começou no início de Fevereiro com manifestações em Kiev tendentes a desestabilizar o país. Na Praça Maidan grupos paramilitares, financiados pela CIA provocaram distúrbios, assaltaram ministérios, destruíram edifícios públicos, entraram em choques armados com a polícia.

Washington atingiu o objetivo. O presidente legítimo, Viktor Ianukovich – aliás, um aventureiro corrupto, tal como a ex. primeira ministro Timochenka, da ultradireita – foi deposto a 24 de Fevereiro.

Uma Junta de políticos fascistas, criada ad hoc, assumiu interinamente o governo do país.

Os EUA festejaram, e eleições promovidas a correr, levaram à Presidência o multimilionário Petro Poroshenko, conhecido pela alcunha de “rei do chocolate”.

A farsa democrática foi recebida com reservas por alguns dos aliados europeus dos EUA.

Ficou claro que o Parlamento e a Junta são controlados por partidos de extrema-direita, alguns dos quais exibem com orgulho símbolos nazistas. A caça aos comunistas foi oficializada.

Ucranianos que lutaram nas SS hitlerianos contra a União Soviética são agora guindados a título póstumo a heróis nacionais.

No leste do país, em províncias onde a maioria da população é russófona, a resistência encontrada pelo governo fantoche de Kiev foi imediata e firme. Exigiam garantias de uma ampla autonomia.

Poroshenko não soube extrair dos acontecimentos da Crimeia, as conclusões que se impunham.

Com o aval de Washington e confiando em promessas de uma ajuda financeira generosa, garantiu que iria submeter os “rebeldes” em poucos dias.

A bravata foi logo desmentida. As ofensivas do exército de Kiev, apoiadas por brigadas de voluntários que se assumem como nazistas e anti russos, foram derrotadas.

A própria imprensa dos EUA reconhece que a deserção de solados e oficiais é maciça.

No momento em que escrevo – início de Setembro – a situação militar, politica, econômica e social é catastrófica.

Os insistentes apelos para ajuda militar e o pedido de ingresso na ORAN, formulado pela Junta, expressam bem o desespero da camarilha instalada no poder.

As declarações do presidente dos EUA e do secretário de Estado John Kerry – um republicano muito conservador e de mediocridade inocultável – deixam transparecer a confusão existente em Washington.

Obama esclareceu que no momento não tem uma estratégia definida para a região.

Não pode confessar que todas as opções são negativas.

Os EUA reforçaram a presença militar nas repúblicas Bálticas e na Polônia e vão instalar cinco novas bases militares nos países do Leste. Simultaneamente, a União Europeia escolheu para presidente do seu Conselho de Ministros, como sucessor do belga Rompuy, o polaco Donald Tusk, um anti russo assumido que na juventude militou no Solidarnosc de Lech Walesa.

Mas as arrogantes ameaças de Obama à Rússia são na realidade tiros de pólvora seca. As sanções prejudicam, sobretudo a União Europeia.

O presidente sabe, aliás, que as acusações de participação de unidades militares russas nas províncias separatistas ucranianas são falsas.

Os generais do Pentágono consideram impensável o envolvimento dos EUA na Ucrânia numa guerra convencional contra a Rússia. E o recurso a armas nucleares, mesmo táticas, seria provavelmente o prólogo de uma tragédia planetária.

A desorientação que se instalou na Casa Branca, no Pentágono e no Departamento de Estado justifica-se.

No auge da crise da Ucrânia, a situação existente no Iraque e na Síria agravou-se perigosamente.

A proclamação do Califado em territórios do Crescente fértil por uma seita jihadista que se auto intitula Estado Islamico-EI desencadeou o pânico em Washington e nas capitais europeias. Surgindo repentinamente como vendaval de violência, essa organização de jihadistas fanáticos, liderada por Abu Bakr Al Baghadi (que afirma ser descendente do profeta Maomé) ocupou em poucas semanas uma área do Nordeste da Síria e quase um terço do Iraque. Infligiu derrotas demolidoras ao exército iraquiano e invadiu territórios do Curdistão autónomo, aliado dos EUA.

A situação, tal como se apresenta lembra uma tragicomédia.

Reagindo ao SOS lançado pelo novo primeiro ministro de Bagdá, Haida al Abadi, homem de confiança da Casa Branca, os EUA decidiram realizar bombardeamentos cirúrgicos, alegando agiam para evitar o extermínio dos Yazidis, uma minoria de religião pré-islâmica (serão no máximo uns 300 000) com rituais do mazdeísmo persa.

Omitiram a mídia que os Yazidis foram bombardeados em 2007 em circunstâncias mal esclarecidas e que na época o governo dos EUA ignorou o assunto.

Obama informou, entretanto, que os EUA não enviarão tropas terrestres para a região.

Os monstruosos atos de barbárie praticados pelo Estado Islâmico – já degolaram dois jornalistas americanos – provocaram a justa indignação de milhões de muçulmanos em todo o mundo. Os governos do Irã e da Síria tornaram pública a sua disponibilidade para combater os criminosos do fantasmático Califado.

A posição dos EUA, enfrentando uma situação de pesadelo, inimaginável há poucos meses, é, portanto, mais do que incómoda, dilemática. Todas as possíveis opções – repito – são negativas.

Não podem aceitar a ajuda militar da Síria, do Irã e de outros Estados inimigos que definem como terroristas e formam aquilo a que chamam “o eixo do mal”.

Não podem também reenviar tropas da US Army para o Iraque depois de terem utilizado a sua retirada do país como prova do cumprimento da sua missão “democrática e civilizadora”.

O que fazer então?

Barack Obama não tem resposta para a pergunta.

Acredito que os historiadores que identificam na Historia a mãe das ciências chegarão no futuro à conclusão de que o Obama foi o mais nocivo, hipócrita e perigoso para a humanidade de todos os Presidentes do país.

Miguel Urbano Rodrigues

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