Aurora
O primeiro raio desce calmo,
resignado,
a gravidade pesa e então só resta
dar o mais pesado à luz:
a luz.
Só pra você
Engoli a teia
e caminhei com as aranhas no bolso
sem fazer alarde.
Te ligo pra contar meu pesadelo,
sobre os defeitos do corpo
e do mundo.
Choveu demais aqui,
e tem uns timbres da minha voz
que só pra você posso cantar.
Sopram você
(sabiá,
sabe lá).
O que mais da história segue
a gente logo logo
não verifica em livros.
Como enganar a morte
Fazer planos
e se despedir ao mesmo tempo,
assim é: minha caminhada.
é ter que partir
recém-chegada,
não sei o que faço
com essas raízes
que trago na testa
estampadas.
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Beatriz Ras (1987) é da zona norte do Rio de Janeiro e é graduada em psicologia pela UERJ. Autora de Rasgalume (Pachamama, 2019), Nove Casas (Urutau, 2022) e Exoterra (Urutau, 2025), tem poemas publicados em zines e antologias no Brasil e na Argentina.