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Bebianno, Mourão e três filhos seguram o tranco

Foto: Valter Campanato/ABr

Jair Bolsonaro poderá inspirar o enredo de uma telenovela. Ele e seus guardiões. A trajetória de sucesso do presidente, hoje internado em São Paulo, passa por nomes de relevante importância, com características de bons combatentes.

O primeiro é Gustavo Bebianno, advogado e mestre em jiu-jitsu, que convidou para o tatame Paulo Cotrin, diretor interino do Hospital Federal de Bonsucesso, Zona Norte do Rio de Janeiro.

A situação daquela unidade de saúde já era investigada no fim de 2018, ainda durante o governo de transição. Os serviços de inteligência haviam fornecido fortes indícios de que ali a milícia organizava a fila de pacientes de acordo com a agenda do crime. E muito provavelmente eleitoral.

Bebianno, atual ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, reservou a informação até a quinta-feira, 7, quando foi enfático no encontro com o dirigente hospitalar interino, afirmando que se a solução não vier pelo amor, virá pela dor.

O Hospital de Bonsucesso era comandado oficiosamente pelo deputado federal Wilson Beserra (MDB-RJ) que nomeou para cargos no hospital parentes e amigos originários da cidade de Seropédica, município carioca e seu reduto eleitoral, inclusive, a diretora da instituição que deu uma festa entre pacientes moribundos, ratos e baratas, para comemorar os 70 anos daquela unidade. Com espumante oferecido pelo deputado. A balada da beldade custou R$ 150 mil, onde não há nem esparadrapo. Pagos pelo contribuinte.

Entre mortos e feridos jogados nos corredores, chegou de surpresa o ministro da Saúde, Luiz Mandetta, para uma inspeção. Com a exoneração da diretora de Beserra do cargo, Luana Camargo, farmacêutica cujas únicas experiências foram as selfies para o Facebook da festa-deboche que promoveu e o balcão da farmácia do postinho de saúde de Seropédica onde atendia, a realidade veio à tona.

O ministro Bebianno, então, questionou as ameaças que a missão oficial de investigação recebeu de possíveis milicianos, afirmando que a campanha de Bolsonaro foi cercada de sangue, suor e lágrimas, mas que ainda assim alcançou seu objetivo. Uma resposta às ameaças recebidas de que os agentes do governo poderiam sair de Bonsucesso com sangue nos jalecos.

O que poucos sabem é que Gustavo Bebianno foi o responsável por viabilizar a campanha de Jair Bolsonaro, ao resolver uma questão partidária complexa, que poderia até impedir a disputa eleitoral. Assumiu o Partido Social Liberal – PSL, onde abrigou o presidente que estava sem partido no início de 2018, quando tinha apenas 17% das intenções de votos. E o PSL sequer tinha representação no Congresso Nacional.

Bebianno devolveu o partido no fim de 2018 ao seu fundador, deputado federal Luciano Bivar (PE), com 3 senadores e 52 deputados federais, dezenas de deputados estaduais e distrital eleitos, a maior virada partidária da história brasileira. De quebra, esmagou a tradicional situação de esquerda, centro e direita, que dominava o parlamento há décadas. Bebianno, portanto, não precisa de credenciais para enfrentar adversidades.

Outro guardião é o general Hamilton Mourão (PRTB-RJ), vice-presidente, com grande espaço na mídia partidária adversária, por suas declarações polêmicas. Uma delas, quando ele quis dizer que o brasileiro herdou a serenidade dos indígenas e a astúcia dos negros.

Entretanto, o general, que reconhece na sua origem sangue indígena e negro, empregou os substantivos “indolência” e “malandragem”, respectivamente. Para delírio dos opositores e movimentos não governamentais esquerdopatas. Mas assim ele é.

Além de Bebianno e Mourão, cercam o presidente Bolsonaro outros generais, entre eles, Augusto Heleno, Carlos Santos Cruz e Fernando Azevedo e Silva. Todos combativos e cientes dos seus espaços.

Existe o bloco doméstico também. Aliás, muito doméstico, formado pelos filhos do capitão: Eduardo, 34, deputado federal mais votado do Brasil, Carlos, 35, vereador no Rio de Janeiro desde os 17 anos (5 mandatos) e Flávio, 37, eleito senador (RJ) com 4,2 milhões de votos.

A safra faz inveja aos políticos tradicionais que fizeram de seus filhos políticos de menor sucesso. Bolsonaro fez três e tem mais dois na reserva técnica.

Mas nem tudo é primavera. Pessoas próximas aos churrascos da família na Barra da Tijuca, afirmam que as presenças de Bebianno e Mourão no Palácio do Planalto incomodam, por vezes, a prole política do presidente.

No momento em que o comandante do Brasil está cumprindo uma internação estendida e compulsória, em virtude de sucessivas cirurgias, há a necessidade de manter o funcionamento da gigantesca máquina governamental, que não pode parar.

O general e vice-presidente Hamilton Mourão é o substituto imediato da cadeira Número 1 do Planalto. Para dar celeridade aos projetos de reforma que são urgentes, Mourão deveria cumprir maior alcance na governança e não deixar que o impedimento do presidente, nesses primeiros dias de funcionamento do Congresso Nacional, retenha as tratativas e os processos nas áreas da Previdência, do Trabalho e da Segurança, compromissos de campanha.

A previsão de que o presidente estaria despachando imediatamente após a terceira cirurgia, em 28 de janeiro último, não foi cumprida. Após 11 dias de atraso e diagnosticada uma pneumonia que prorroga sua internação, ele ficará no estaleiro mais uma semana. Na melhor das hipóteses. É muito tempo de ausência das atividades executivas.

Se o julgamento que fazem do vice Mourão for subproduto de suas polêmicas declarações, então os três herdeiros não têm muito do que falar. Mourão certamente não vai soprar a casinha até cair. Foi Bolsonaro quem inaugurou e é pioneiro no vocabulário que o consagrou: direto, ácido, verdadeiro, por vezes grosseiro, odiado pela imprensa e amado pela maioria dos brasileiros.

Se Mourão segue a mesma linha, certamente estilo igual está no DNA dos prodígios Eduardo, Carlos e Flávio.

Antes que a oposição e a imprensa inimiga consolidem a fábula de que há resistência dos três irmãos ao vice-presidente, especialmente na imediata substituição ao presidente Bolsonaro durante o longo período de sua recuperação, é recomendável pensar mais no Brasil que não pode parar.

Se a intriga da oposição for procedente, é preciso saber com urgência qual deles é o Prático.

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