Ponte aérea
Bebê em avião vira energia pura e curiosidade descontrolada

Hoje minha filha tem um ano e sete meses — e por uma série de razões, já precisei viajar de avião sozinha com ela várias vezes. A primeira foi quando ela tinha pouco mais de um mês de vida. Eu estava apavorada: medo de não dar conta, dela chorar sem parar, dos olhares impacientes dos outros passageiros. Tudo era novo, frágil, e eu me sentia completamente despreparada.
O que eu não sabia, claro, é que aquela seria provavelmente nossa viagem mais tranquila. Ela dormiu praticamente o voo inteiro, aninhada em mim, e o maior desafio foi segurar o choro de emoção por estar vivendo aquilo — sozinha, mas com ela.
Ontem, porém, fizemos nossa viagem mais recente. E o que foi aquilo? Um caos deliciosamente insano. Ela gritou (de alegria, de tédio, de tudo), beijou a moça simpática que sentou ao nosso lado, chamou de “vovô” um senhor idoso que estava à nossa frente, mandou beijos pros comissários e tentou convencer uma aeromoça a brincar de pega-pega no corredor. Quis correr, pular, cantar, e se eu ousava segurar firme, abria um berreiro dramático.
Mal sabia eu, lá atrás, que o verdadeiro desafio dos voos com crianças não era o choro de um recém-nascido. É a energia sem fim, a curiosidade descontrolada, o mundinho de oitenta centímetros de puro caos ambulante — e amor, claro. Porque mesmo exausta, ainda assim, no fim do voo, eu olho pra ela e penso: como pode ser tão difícil e tão bonito ao mesmo tempo?
