Um terço das crianças com menos de um ano sabe usar smartphones ou tablets antes ainda de ter aprendido a falar ou a andar. O estudo foi conduzido no Einstein Healthcare Center, um hospital com clínica pediátrica que serve uma comunidade com baixos rendimentos, na Filadélfia, Estados Unidos e foi apresentado no encontro anual das sociedades pediátricas daquele país, em San Diego, esta semana.
Os autores avaliaram 370 pais com crianças entre os seis meses e os quatro anos. Foi-lhes entregue um inquérito, com 20 perguntas, para determinar quais os dispositivos eletrônicos existentes em casa, qual a idade e a frequência com que as crianças começavam a ter contacto com os mesmos, a que outras atividades se dedicavam e ainda se os pediatras tinham conhecimento dessas práticas.
Os dados recolhidos mostraram que 60% dos pais deixavam as crianças ocupadas com os dispositivos eletrônicos enquanto trabalhavam ou faziam pequenas tarefas em casa; 29% utilizavam os mesmos para que as crianças adormecessem. Três em cada quatro pais permitiam ainda que os filhos brincassem com os gadgets enquanto faziam as lides domésticas. O mesmo estudo revelou que a maior parte dos pediatras não tinha conhecimento destes hábitos.
Em relação às crianças estudadas, menores de um ano de idade, 52% já viram televisão em dispositivos móveis, 36% tinham permissão para desbloquear o ecrã, 15% usam apps e 12% jogam jogos. Por fim, quase um quarto das crianças já tinha feito uma chamada telefônica. De acordo com o estudo, a maior parte das crianças que atingiu os dois anos de idade já usava telefones e tablets.
Segundo o Washington Post, os “investigadores ficaram surpreendidos com os pais que entregaram telemóveis prematuramente aos filhos”. Hilda Kabali, uma das autoras do estudo, revelou ainda, segundo a mesma publicação que os investigadores “não esperavam que as crianças usassem estes dispositivos aos seis meses de idade”, adiantando ainda que “alguns bebês usaram-nos durante 30 minutos”.
A Academia de Pediatras Americanos desencoraja o uso de gadgets a crianças menores de dois anos. Em 2013, o governo britânico alertou também para esta questão, revelando que o uso destes aparelhos por crianças tão pequenas pode criar problemas emocionais.
Apesar destes alertas, há várias companhias que desenvolvem aplicações para fomentar a aprendizagem dos mais pequenos através dos gadgets, por exemplo, com jogos que ensinam os números, o alfabeto,a s formas geométricas ou as cores.
De acordo com o Washington Post, Susan Linn, diretora da campanha Comercial-Free Childhood, afirmou, o ano passado, que “convencer os pais a gastarem dinheiro em produtos inúteis, produtos de marketing para bebês para lhes ensinar os números e as letras manda uma mensagem preocupante às famílias sobre aprendizagem e como os filhos devem passar o seu tempo”.
Para os investigadores, este novo estudo é ainda mais preocupante que os anteriores: em 2013, num inquérito conduzido através da Internet a quase 1500 pais revelava que 38% das crianças até aos dois anos de idade usavam dispositivos tecnológicos. Aparentemente, a tendência é, cada vez mais cedo, as crianças terem acesso a estes e a saber usá-los.