Julia Affonso, Mateus Coutinho e Fausto Macedo
Em decisão unânime, a Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) deu habeas corpus para que o ex-deputado distrital e ex-vice-governador do DF Benedito Domingos possa deixar o regime semiaberto para cumprir prisão domiciliar. O benefício foi dado por causa da idade avançada – 82 anos – e ‘do estado de saúde debilitado’ de Benedito Domingos. As informações foram divulgadas no site do STJ.
Membro da Câmara Legislativa do Distrito Federal até 2014, Benedito Domingos foi condenado a cinco anos e oito meses de prisão por fraudes em licitações e a quatro anos por corrupção passiva. Em março deste ano, a Sexta Turma determinou a expedição de mandado de prisão contra Domingos. Foi o primeiro caso em que o STJ ordenou a execução provisória da pena para condenados em segunda instância, depois que o Supremo Tribunal Federal (STF) passou a admitir essa possibilidade, em fevereiro
No habeas corpus, a defesa pediu o deferimento da prisão domiciliar em razão do ‘grave estado de saúde do condenado’, que não estaria recebendo tratamento adequado no 19º Batalhão de Polícia Militar do DF, onde está preso, e de sua idade avançada
O relator, ministro Rogerio Schietti Cruz, entendeu que a fragilidade da saúde do ex-vice-governador do DF ‘ficou devidamente comprovada no processo, com base em laudos médicos que indicam doenças diversas’.
O ministro observou que o artigo 117 da Lei de Execução Penal (LEP) admite a prisão domiciliar para condenados em regime aberto que enfrentem certas circunstâncias pessoais, como doença ou idade avançada. No entanto, acrescentou, o STJ tem admitido, em situações excepcionais, que o benefício seja concedido a condenados em regime diverso do aberto, quando necessário para tratamento médico que não possa ser disponibilizado no presídio
“Não se sustenta a interpretação literal de dispositivo de lei que venha a fomentar, na vida prática, a manutenção do quadro caótico do sistema penitenciário, com implicações deletérias à integridade física dos presos”, afirmou o relator, destacando que o Estado tem o dever de assegurar a assistência médica a quem esteja sob sua custódia.
“Há nítida singularidade na situação do paciente, que conta com 82 anos de idade e com inúmeras patologias que requerem cuidados médicos, não disponibilizados satisfatoriamente pelo estabelecimento prisional em que se encontra recolhido, tornando temerária sua manutenção no cárcere enquanto inalterado o quadro médico ou a insuficiência dos serviços estatais”, anotou o ministro.
Schietti também apontou o entendimento do Supremo Tribunal Federal, em recentes precedentes, de que o artigo 117 da Lei de Execução Penal admite a possibilidade da prisão domiciliar em qualquer momento do cumprimento da pena, ainda que em regime fechado, desde que as peculiaridades do caso o exijam.
O colegiado autorizou que Benedito Domingos fique em prisão domiciliar até que seu quadro clínico permita o retorno ao estabelecimento onde cumpre pena, devendo os relatórios médicos sobre a evolução das doenças ser encaminhados periodicamente ao juízo das execuções criminais, ou até que o estabelecimento prisional tenha condições efetivas de prestar a assistência médica de que ele necessita.