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Besteirol recorrente agora é exportado para “irmãos” opressores

(Budapeste - Hungria, 17/02/2022) Presidente da República Jair Bolsonaro cumprimenta o Primeiro-Ministro da Hungria, Viktor Mihály Orbán. Foto: Alan Santos/PR

Abandonado pela principais nações do mundo, mas solidário à Rússia do camarada ditador Vladimir Putin. Criticado dia e noite pelos Estados Unidos, maior potência do planeta, mas novo amiguinho da ultraconservadora Hungria, do “irmão” Viktor Orbán, execrado na Europa por avançar contra liberdades individuais e de imprensa. Ou seja, tudo a ver com os atuais valores de boa parte da sociedade brasileira, a começar pelo seu líder maior, o presidente da República. É este o Brasil que queremos? Certamente que não. Comprovando que, apesar de mito, ele (o mito) não é a última bala do pacote, essa deverá ser a resposta da maioria do eleitorado nas eleições de outubro. Aliás, depois desse périplo pela Rússia e Hungria e de ‘impedir’ a invasão da Ucrânia, o capitão tem sido chamado nas redes sociais de Mitovisk.

Prática das mais comuns entre homens públicos e apoiadores fechados com o atraso político, o besteirol sempre foi lugar comum de quem não tem nada de bom para dizer. Lamentável é que estejamos exportando bobajadas justamente para uma região da qual recebemos pouquíssimo retorno. Por exemplo, russos e húngaros devem ter ouvido cobras e lagartos a respeito do sistema eleitoral do país, do vírus da Covid-19 e da vacina, três dos assuntos prediletos dos mentirosos da seita bolsonarista. Pelo menos deviam ter explicado que é mais fácil falar contra do que reconhecer a urna eletrônica como equipamento seguro e rápido de votação. É o caminho mais rápido para questionar ou justificar a provável futura derrota. Mais fácil ainda do que apoiar a ciência, capacitar médicos e melhorar a qualidade da saúde oferecida aos contribuintes é negar uma doença que já matou quase 650 mil compatriotas.

Felizmente, Deus existe e realmente está acima de todos. Hoje, além da tendência de retorno do Brasil aos trilhos da plena democracia, os negacionistas raiz estão marcando encontro no céu, onde, após a variante Ômicron, chegam aos montes à procura das filas destinadas à imunização. Lamento reiterar, mas o mesmo direito que o negativista tem de não reconhecer a letalidade do vírus e não tomar a vacina eu tenho de não lamentar sua morte. E esse sentimento sempre é precedido de um pedido de perdão ao Criador. Voltando ao besteirol, triste constatar, mas as mentiradas bolsonaristas continuam aflorando dentro e fora do Brasil. Repetida pelo próprio presidente, a mais recente novamente envolveu o desmatamento, razão de recorrentes cobranças das comunidade internacional.

Em conversa com o primeiro-ministro húngaro, o “irmão” Orbán, Bolsonaro divulgou informações falsas sobre a Amazônia, afirmando que o Brasil não destrói a floresta. O problema é que, embora os registros sejam de sucessivos recordes de desmatamento, esse tipo de mentira já virou verdade para o mito, que lamentavelmente se consolida como o mandatário mais desqualificado da história nacional. Desencorajado a tentar uma aproximação com lideranças de grandes potências, sejam elas econômicas ou democráticas, Jair Messias tem limitado suas andanças pelo mundo do totalitarismo ou da absoluta ineficiência, casos da Rússia e da Hungria, respectivamente. Tudo bem que, além de numerosas teorias paranoicas, o maior país da antiga União Soviética ainda tem alguma coisa boa para nos oferecer.

E a desimportante Hungria? Por que gastar nosso rico e suado dinheiro para visitá-la oficialmente? Ficou claro que tomar a benção a déspotas faz bem ao líder tupiniquim. Não tivesse o Rio Danúbio, o artilheiro Puskas, o músico Franz Liszt e o velho compasso dos tempos de menino, a Hungria seria para o mundo o que a Vila Mimosa do Rio de Janeiro é para o Brasil: uma vaga e promíscua lembrança. Mesmo assim, o sabe tudo do cerrado resolveu esticar a viagem. Sobre o compasso, antigo item da lista escolar, inventado pelo cientista e matemático Leonardo da Vinci, o preferido da gurizada de minha época de terceira e quarta séries era fabricado exatamente na Hungria. Em forma de agulha, o equipamento foi desenvolvido para criar arcos de circunferência e resolver desafios de geometria. Certamente teria hoje ótima serventia em determinados gabinetes quadrados da Esplanada e da Praça dos Três Poderes.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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