Em tempos modernos, bem mais modernos que os imaginados por Charles Chaplin, o uso de bicicletas em todo o mundo se apresenta como a melhor alternativa para a mobilidade urbana.
Em artigo assinado por Kleber Ferriche, Notibras levantou a questão, abordando prós e contras das ciclovias já traçadas e as programadas para o Distrito Federal.
A partir daí, a polêmica entrou no ar, via mundo virtual. Os defensores do uso de bikes foram contundentes com críticas ácidas aos posicionamentos de Ferriche – que, ressalte-se, sempre manifestou uma opinião pessoal, nem sempre abraçada pela Direção de Redação de Notibras.
Em meio aos debates, Renata Florentino, da Coordenação Geral da ONG Rodas da Paz, decidiu aderir ao debate, apresentando uma justa defesa das ciclovias, embora condenando, como fez o redator de Notibras, os traçados mau feitos pelos governantes.
Os veículos não motorizados – no caso as bikes – são prioridade no plano nacional de mobilidade urbana, lembra Renata em correspondência encaminhada a Notibras. No mesmo email, ela sustenta que as pessoas que não andam e jamais andarão de bicicletas, serão beneficiadas com o estímulo ao uso de bikes.
Um veículo isento, como é Notibras, não poderia deixar de dar a devida atenção ao posicionamento da ONG Rodas da Paz. Portanto, o texto de Renata Florentino, rico em detalhes, é editado a seguir. Mas Ferriche não poderia deixar de se manifestar mais uma vez. E ele teceu seus comentários.
Veja, a seguir, o que diz Renata Florentino em defesa das ciclovias. E logo adiante, mais um comentário de Kleber Ferriche.
LEI PREVÊ CICLOVIAS NAS RODOVIAS DO DF
Prezado José Seabra,
Diretor do Grupo Notibras de Comunicação,
Tivemos conhecimento de texto veiculado no site Notibras que colocava em questão, de maneira superficial, a necessidade de uma ciclovia na EPTG. Acreditamos que a questão merece uma cobertura séria dos profissionais de comunicação. Vimos o novo texto do mesmo autor sobre o assunto, e gostaríamos de oferecer mais elementos para o debate.
Participamos de uma vistoria em conjunto com o DER e o ITDP (Instituto de Desenvolvimento de Políticas de Transporte e Desenvolvimento) no dia 14 de junho, justamente tratando da melhor forma possível de se viabilizar um projeto de qualidade para esta via.
Para subsidiar os participantes da vistoria do dia 14, elaboramos um resumo executivo básico tratando da origem do projeto, sua necessidade do ponto de vista jurídico, social e ambiental. Há uma versão menor desse resumo disponível em nosso site.
A EPTG sozinha, com seus 12km de extensão, apresenta o mesmo número de ciclistas mortos que todo o bairro do Plano Piloto. A obra da Linha Verde, financiada com recursos do BID, previa uma ciclovia em seu projeto original, que foi apresentado com o discurso da mobilidade sustentável a época, como uma saída para os congestionamentos que, sabe-se, não saíram do local. A EPTG conecta 70% dos postos de trabalho do DF, sendo muito utilizada por trabalhadores no dia a dia. A lei 3.639 de 2005 prevê ciclovias nas rodovias do DF. A Política Nacional de Mobilidade Urbana dá a prioridade para o deslocamento não motorizado em relação ao motorizado.
Por tudo isso, afirmar que a EPTG seria um desperdício de recurso, uma reivindicação corporativa ou pior, “falácia e irresponsabilidade” de uma “confraria dos elegantes”, não parece estar a altura dos outros conteúdos que o portal publica.
Temos a mídia brasiliense como uma grande aliada da causa da paz no trânsito e da mobilidade sustentável, em nosso trabalho que já passa de década no DF, e é ótimo contar com profissionais de comunicação para explicar para a grande população os desafios das políticas públicas serem implementadas com correção e primor.
As críticas que o colunista faz às ciclovias do governo Agnelo, inclusive, também foram feitas por nós, pelo Tribunal de Contas e pelo Ministério Público. Não há base para se cobrar responsabilidade da Associação numa obra feita a sua revelia pela administração passada, nesse ponto, além dos erros nos argumentos sobre a EPTG, o texto errou também no alvo ao reclamar das ciclovias do ParkWay.
Enviamos em anexo uma apresentação do trabalho da ONG, que está longe de atuar em defesa de uma pauta corporativista, como afirmou o colunista. Acreditamos que a bicicleta, e a mobilidade sustentável, são elementos de transformação de toda a sociedade. Uma cidade que recebe bem os usuários de bicicleta recebe bem também suas crianças e idosos, grandes beneficiários das políticas de acessibilidade e moderação de tráfego. A redução das internações hospitalares por redução da poluição do ar é outro dos benefícios que esse modal traz. As pessoas que não andam e jamais andarão de bicicleta também são beneficiárias do estímulo ao uso da bicicleta e é por isso que cada vez mais cidades investem na política cicloviária.
Acreditamos que esses elementos podem ajudar na abordagem de pautas relacionadas futuramente.
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Renata Florentino
Coordenação Geral
Rodas da Paz
CAUSA DA ONG RODAS DA PAZ É JUSTA
É muito sadio que um tema seja polêmico, promova a difusão de opiniões, eleve o debate a um patamar técnico e promissor. Sem fumaça, claro, para não empurrar para debaixo do tapete a essência do debate. Com seriedade, a coordenação da ONG Rodas da Paz encaminhou um texto para Notibras fundamentando suas razões por defender a ciclovia na EPTG. É lícito. Depois de analisar os links oferecidos, este autor das matérias sobre o assunto foi convocado para comentar.
Mas o intuito não é o de polemizar, mas de equacionar as razões e encontrar uma solução técnica para que o governo tome uma decisão acertada sobre a mobilidade urbana inteligente no Distrito Federal. Embora não haja nenhum comentário sobre as decisões equivocadas como o Polo de Cinema, o de Modas ou a Feira Popular oferecidas no último artigo nem sobre porque o Eixo Monumental recebeu uma ciclovia do lado Norte e outra do lado Sul, a menos de 100 metros uma da outra, uma vez que uma ciclovia é uma via de mão única.
O assunto precisa de resposta, inclusive porque podem os responsáveis ser submetidos a uma ação pública se não forem capazes de justificar o desperdício de dinheiro da sociedade (tomara que não tenha sido uma ideia da Rodas da Paz). Vamos ao respeito pelas razões apresentadas pela Renata Florentino – ela assina como coordenadora geral da ONG Rodas da Paz – em seus links. É claro que vou aguardar a manifestação de pelo menos mais dez organizações promotoras do pedal antes de dar uma opinião final sobre o assunto, mas esse momento é uma inicial do debate.
Acesse: http://www.rodasdapaz.org.br/wp-content/uploads/2015/06/EPTG_v4.pdf Está lá: Aproximadamente 70% dos postos de trabalho do Distrito Federal se localizam em Brasília, Taguatinga, Ceilândia e Samambaia, de acordo com a CODEPLAN. Também está lá: De acordo com dados de 2009 coletados para o Plano Diretor de Transporte Urbano de 2011, o deslocamento para o trabalho corresponde ao objetivo de 64,2% dos usuários de bicicletas.
Isso não é estatística, muito menos fundamento para justificar seu pleito. Quantos são os usuários de bicicleta dispostos a pedalar de Taguatinga ao Plano Piloto? Quantos são os 64,2%? São trabalhadores? Os 70% dos postos de trabalho identificados pela Codeplan não dizem nada. E daí? O que tem a ver uma coisa com outra? São 500 mil dos quais apenas mil são ciclistas, ou são 500 mil ciclistas? Aí os 64,2% serão mesmo significativos, mas Renata sabe que não é essa a realidade, embora esteja cumprindo o seu papel de líder corporativa. Até ganhou espaço na mídia.
Não há, até agora, resposta para a questão de quantos vão pedalar nos meses de chuva e nos meses de estiagem. É muito dinheiro público em jogo e isso não é brincadeira. Tem um gráfico de mortes, inclusive, no link oferecido. É claro que vão morrer muitos ciclistas se insistirem em pedalar em vias feitas exclusivamente para automóveis. É óbvio.
Não abro mão de defender a mobilidade urbana moderna que é um conjunto de soluções, incluindo a importante bicicleta, mas não só a bike de fins de semana. Isso não cola. Colou até agora com os governantes que ignoraram estudos muito técnicos que beneficiariam, de verdade, os ciclistas trabalhadores de forma evoluída, decente e definitiva. Nesse aspecto estão de parabéns aqueles que criticaram a ciclovia do Park Way, inclusive o Ministério Público.
Gráficos da Codeplan, um órgão sucateado desde Durval Barbosa e que hoje faz estatísticas para saber quantos torcedores do Flamengo existem em Brasília, além de registros de cemitérios onde infelizmente constam os nomes de guerreiros pedalantes, não fazem parte dos fundamentos para incentivar novos governos a ampliar vias para automóveis e construir ciclovias que jamais serão utilizadas por trabalhadores humildes, que mesmo na chuva ou no sol utilizariam esse meio inteligente de locomoção.
Renata, com todo respeito, você pode oferecer uma relação de associados da sua solicitada organização de trabalhadores – pedreiros, marceneiros, balconistas, frentistas, cabeleireiras, mecânicos etc. – acompanhada da enquete – com RG e CPF – com o testemunho de que eles deixariam ônibus, metrô, veículos particulares, para ir e voltar de Taguatinga ao Plano Piloto e pedalar de janeiro a dezembro felizes como foi o Cláudio do Gama algum tempo? Prometo, em novo texto, que a relação dos seus milhares de ciclistas fiéis e trabalhadores chegará ao Ministério Público, ao TCDF, ao governador e a Câmara Legislativa.
Torcemos pela sua causa. Claudio, o leitor experiente e educado, talvez possa ajudar. Só por curiosidade, competente Renata: como você faz seus deslocamentos durante a semana em Brasília? Essa informação está fazendo falta. Rodrigo Rollemberg, parceiro de todos os tempos de muitos pedalantes, inclusive eu, abra o olho.
Kleber Ferriche