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Bizarrices, arrogância e censura ideológica, a cara da educação

Itens básicos do programa de qualquer goveRno mondrongo, saúde, segurança e educação jamais foram propostas incluídas na lista de prioridades do atual mandatário. Desde a posse, o único projeto era o da perpetuação no poder. Ora pelo convencimento de que não havia ninguém melhor para substituí-lo, ora pela invenção de fraude nas urnas eletrônicas, ora pelo golpismo barato, os grupos do cercadinho e da ideologia de botequim tentaram o que podiam. Colhendo o que plantaram, falharam grotesca e grosseiramente em todas as tentativas. Enquanto elucubravam novas formas de poder, o tripé dos países desenvolvidos sucumbia no Brasil. É mentira? Temos saúde, educação e segurança de qualidade? Tudo bem que são problemas históricos. No entanto, é bom lembrar que Jair Bolsonaro foi eleito atacando ferozmente antecessores que nada fizeram e prometendo mundos e fundos para melhorar o que não tínhamos.

Infelizmente, continuamos sem nada. O que temos hoje são mais de 610 mil mortos por conta de um gripezinha sem importância. A exemplo da seca no Nordeste, saúde e segurança faz tempo deixaram de fazer parte dos discursos eleitoreiros. Educação, porém, se mantém nos bordões e frases de efeitos até dos candidatos a síndico. Não passam dos bordões. No governo do cercadinho, aculturar o povo não é prioridade. Pelo contrário. Imbecilização e fanatismo são as palavras de ordem. Educação virou mais do que uma brincadeira bizarra de meninos mimados. É uma fantasia, chacota paralisante iniciada pelo filósofo e ensaísta colombiano Ricardo Vélez, mantida pelo blogueiro fujão Abraham Weintraub e consolidada pelo pastor Milton Ribeiro. Os três fizeram e fazem parte do comando da guerra santa contra Paulo Freire, patrono da educação brasileira.

Em lugar de políticas capazes de resolver os problemas do Ministério da Educação, desde 2019 o país experimenta um festival de bizarrices, cuja continuidade certamente resultará no desmonte do setor. A última cena da ópera bufa da administração do mito de barro é desmoralizante e preocupantemente intranquila para o futuro da oitava (?) economia do mundo. Refiro-me à pressão ideológica sofrida às vésperas do Exame Nacional do Ensino Médio de 2021 pelos formuladores das provas. Vigiados veladamente e instados pela frágil direção do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) a “esquecer” questões que pudessem desagradar ou incomodar o capitão Jair Bolsonaro, 37 integrantes da turma de pensadores pediram demissão voluntária. A preocupação do presidente da República é não ser atingido por perguntas controversas ou capazes de gerar críticas à administração do fim do mundo.

Muito mais do que antidemocrático, o medo do mandatário poderia ter sido minimizado com algumas canetadas. Uma delas seria autorizar o cumprimento de meia dúzia das promessas de campanha, destacando a educação para todos. Ao exigir a retirada de trechos das provas do Enem 2021, o mito se imagina um avestruz, ave da família Struthioniformes que, conforme a mitologia popular, esconde a cabeça na areia ao primeiro sinal de perigo. Do que ele tem medo? Do aculturamento do povo, da honestidade das respostas ou do estrago que a divulgação delas poderia fazer à sua campanha. O primeiro rombo no casco do navio foi a demissão voluntária dos servidores do Inep, que não aceitaram o patrulhamento do governo. Para Jair Bolsonaro, nada mais normal. De Dubai, onde participou de um fórum de investimentos, ele depreciou a debandada, negando a censura e afirmando que a prova começa a ter “a cara do governo”.

Segundo o presidente, “ninguém está preocupado com aquelas questões absurdas do passado, de cair um tema de redação que não tinha nada a ver com nada. É realmente algo voltado para o aprendizado”. Há controvérsias. E como. Com táticas claras de intimidação, servidores foram obrigados a remover da versão inicial da prova mais de 20 questões com referência a contextos sociopolíticos ou socioeconômicos. A ordem são oba obas e loas ao governo. E ponto. De Weintraub até hoje pouca coisa ou nada mudou. Em 2020, no auge da pandemia de Covid, o então ministro não apenas se recusou a cancelar o concurso, mas criticou os que defendiam o cancelamento com a pérola de que “a prova não é feita para atender injustiças, mas sim para selecionar os melhores candidatos”. Dos Estados Unidos, onde se refugiou com medo da Justiça, Abraham Weintraub não admite ser insignificante. Se acha o papa do conhecimento.

Nesse dia 15 de novembro, data em que se comemora a Proclamação da República, ele deu novo show de arrogância e satanismo. Em suas redes sociais, disse que “brasileiro comemorar o dia 15 de novembro é igual a troianos festejarem o dia em que abriram seus portões para o Cavalo de Troia” e que a “República de Deodoro nasceu da perfídia, viveu de mentiras e se alimentou da corrupção”. Alguém precisa dizer ao monarquista Weintraub que agora é que vivemos de mentiras. Quanto a corrupção que tanto combate, ele também tem de ser informado sobre a PEC dos Precatórios, cuja aprovação, a despeito do Auxílio Brasil, gerou as emendas de relator, acrescidas de um tal orçamento secreto, inventado pelos novos parceiros do mito que o ex-ministro ajudou a criar.

E, como sabemos todos, o objetivo maior desse Frankenstein denominado “Bolsolão” é encher ainda mais os bolsos dos políticos que adoram votar propostas sem nenhum apego popular, mas com muito apreço eleitoreiro e interesses individualizados. Ou seja, seu Weintraub, a corrupção só mudou de nome. Sobre a educação de nossos dias, o fundo do poço está bem próximo. Prova disso é que do atual ministro poucos sabem o nome. Portanto, reclamar a quem? Melhor esperar as próximas eleições. Reitero que 2022 está logo ali.

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