Se na vida nada é definitivo, imagina na política. Enquanto Luiz Inácio diz que não será candidato em 2026, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) afirma que o pai, o quase inelegível Jair Messias, ganhará qualquer eleição que venha a disputar tão logo volte do exílio. Independentemente do timing, a oportunidade me obriga a não acreditar em nenhuma das afirmações. Lula vem trabalhando bem e provando que quer acertar. Na verdade, ele sabe que não pode errar. Vitorioso com expressiva margem de votos, o presidente eleito não precisa se ajoelhar no milho para mostrar que é bom. Basta mostrar que aprendeu com seus erros. Expectativas à parte, em quatro anos tudo pode acontecer, inclusive nada. Nesse caso, as chances contra o Partido das Lágrimas (PL) são alvissareiras.
Quanto a Bolsonaro, tudo dependerá de Xandão e do bloco da toga, cujos integrantes estão concentrados desde 8 de janeiro. Ou seja, enquanto um torce pelo bom tempo e pela bonança, o outro, quase santo, permanece à espera de um milagre. Difícil, principalmente se Xandão der uma viajada até 2018 e se lembrar de que, apesar dos arroubos de desonestidade, o Brasil era um país rico, multifacetado, alegre, feliz e amado por dez entre dez líderes mundiais. Tudo mudou com a chegada do reizinho terrivelmente honesto. Seu nariz cresceu quando descobriu que o cartão corporativo, diariamente abastecido com o rico dinheirinho do povo, também servia para comprar pão com mortadela, coxinha de frango, pastel de pera, perna de caranguejo e outras iguarias de periferia. Enfim, a Coca-Cola que era Fanta se acabou no Baré.
É a mesma coisa em qualquer lugar do Planeta. Além de falantemente honestos, os ditadores são sempre moralistas. O problema é quando extrapolam. No Brasil de Bolsonaro, onde o normal era a anormalidade, ocorreu a desfaçatez de agentes públicos se utilizarem de recursos do Erário para bancar atividades eleitorais. Mais do que desfaçatez, é um claro caso de abuso de poder econômico e político. E os atores principais são justamente aqueles que, em 2018, foram eleitos com o discurso da moralidade. O tempo mostrou que a dignidade, a correção, a integridade e a distinção ficaram pelo caminho. Mais especificamente se perderem em hotéis de luxo, em motociatas e convescotes nababescos financiados pelos barnabés.
Com alguma razão, os então acima de qualquer suspeita diziam que a mamata havia acabado. O que bate volta. O que parecia um mantra do mito e seu entorno sumiu na poeira do Cerrado. Rapidamente, descobrimos que a mamata havia mudado de lado. Esqueceram que a política e os políticos são feitos de gestos. Nada fica escondido eternamente. Ouvimos um monte de baboseiras. Alguns ainda dormem e acordam pensando nelas. O Brasil mudou. E tudo que a gente precisa é acreditar que os dias difíceis passam, que as coisas boas acontecem no tempo e que o mal não prevalece. Ninguém é melhor do que ninguém, mas alguns se destacam pelo caráter e outros pela falta dele. A Presidência da República não é para curiosos, muito menos para mentirosos. Ela não é Casa de Mãe Joana.
Embora não tenha limites, o universo da palhaçaria do grupo bolsonarista está próximo do fim. O ódio que a turba destilava não assusta mais. Bolsonaro ameaça voltar, mas alguém precisa avisá-lo de que sua ausência fez um bem danado ao país. Em nome da paz e da unidade, que ele continue onde está ou que vá para mais longe. Se retornar, Xandão terá de chamar o VAR e aí o bicho vai pegar. Tentar transformar a Presidência da República em Casa da Mãe Joana é coisa séria e não pode ficar impune. E não ficará. É cedo para dizer quem virá ou o que acontecerá em 2026. Aguardemos. Sobre Luiz Inácio, melhor esperar o toma lá dá cá de cargos para começarmos a cobrar resultados. Quanto a Jair Messias, nada mais a declarar. Sintetizando, o que está requer análises cautelosas; o que pensa em voltar exige vigilância constante. Xandão tem dormido com um olho aberto.
*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978