O consumo de frutas e vegetais é altamente recomendado como parte de uma dieta balanceada e para uma vida mais saudável. Porém, sabe-se que, no mundo, de 60% a 87% da população consome menos do que é recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que seriam 400 gramas ou cinco porções por dia.
Uma forma de fazer com que essa ingestão aumente é informar as pessoas sobre os reais benefícios desses alimentos e dos compostos que os formam. Para isso, diversos setores precisam estar envolvidos nesse processo.
Para o especialista em extratos botânicos da Amway, governos, escolas, famílias e até as empresas podem estar empenhados em promover essa conscientização. E quanto mais cedo isso começar, melhor. “Se você ajudar crianças nas escolas a construírem esse hábito, elas o levarão para o resto de suas vidas”, disse Charles Hu, chefe de pesquisa global da companhia.
Ele está no Brasil para participar do 15º Congresso Nacional da Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição (Sban). Nesta quinta-feira, 29, ele apresenta um panorama sobre extratos botânicos e fitonutrientes. Antes do evento, que ocorre em São Paulo, Hu conversou com o E+ sobre os benefícios dessas substâncias.
Embora os extratos botânicos possam ser usados como suplementos ou em alimentos (além de medicamentos e cosméticos), o especialista defende que as pessoas resgatem os hábitos alimentares tradicionais. “As pessoas podem se concentrar no que seus avós usam para cozinhar. A maioria da alimentação tradicional é baseada em vegetais, botânicos e especiarias. Devemos pegar essa tradição”, afirma.
Mas há situações em que isso não é possível, seja por questões de preço, acessibilidade ou condições climáticas. “Extratos botânicos são usados no processo da indústria apenas para torná-los mais disponíveis para as pessoas em diferentes partes do mundo e em diferentes estações do ano. Se não fosse processado, você provavelmente não seria capaz de ver uma planta em particular durante toda uma estação”, explica.
Além de falar sobre esses compostos, Hu conversou com a reportagem sobre os hábitos alimentares da população ao redor do mundo e sugeriu estratégias para estimular uma vida mais saudável.
Confira trechos da entrevista:
Quais os benefícios dos extratos botânicos? Como eles agem no nosso organismo?
Historicamente, em uma perspectiva epidemiológica, o consumo de botânicos pode se relacionar com a ingestão de frutas e vegetais, que são conhecidos por serem benéficos para prevenir muitas doenças crônicas, como obesidade, hipertensão, doença cardiovascular. Muitas dessas enfermidades são difíceis e provavelmente basta dar passos simples para consumir uma boa quantidade de frutas e vegetais, incluir os botânicos, que provavelmente lhe darão uma chance melhor de diminuir o risco de contrair esses males que ameaçam a vida.
Pode dar algum exemplo de onde podemos encontrar extratos botânicos e como eles previnem essas doenças?
Vegetais verdes, como brócolis. Ele é conhecido por ser benéfico para a saúde do intestino. O brócolis pode ajudar a desintoxicar – a desintoxicação é função do fígado, mas o composto do brócolis pode regular o processo de desintoxicação. Alguns estudos mostram que comer vegetais verdes, incluindo brócolis, pode reduzir o risco de câncer de cólon.
Todos nós sabemos que é bom comer mais frutas e vegetais, menos açúcar e comidas ultra-processadas, mas não fazemos isso. Por que você acha que isso ocorre? É uma questão comportamental? Falta informação?
Existem vários fatores. As pessoas dizem que estão ocupadas demais, mas estar ocupado é sempre relativo, porque todo mundo está ocupado. Mas algumas pessoas podem estar ocupadas e ainda serem saudáveis. Eu acho que isso também faz parte do modo como você quer ser saudável. Se você tem determinação, se você tem um desejo de viver uma vida saudável, você provavelmente pode separar cinco minutos ou mais dez minutos para a preparação [de comida] em vez de apenas pegar um fast food altamente processado. Se você não tiver tempo para cozinhar a partir do alimento fresco, você pode pegar frutas e vegetais congelados, que também é uma opção.
Nesse ponto, estamos falando de escolhas individuais, e as pessoas sozinhas não podem ser culpadas por sua dieta pobre, por não comerem frutas e vegetais. Que outros fatores você observa nessa questão e quem mais poderia agir para mudar esse cenário?
Eu acho que o governo, porque o governo pode ter o papel de incentivar as pessoas a comerem, de estabelecer algumas políticas de alimentação e vida saudáveis, ajudar as pessoas a construírem esse hábito. Sem políticas, é realmente difícil para a pessoa mudar.
Programas de almoço escolares, como Michelle Obama promoveu nos Estados Unidos, que se concentram na ingestão de frutas e vegetais, também são positivos. Ajudar as pessoas a terem uma vida melhor ou uma vida mais saudável começa desde jovem. Se você ajudar crianças nas escolas a construírem esse hábito, elas o levarão para o resto de suas vidas. Os pais também desempenham um papel nisso. Eles deveriam ensiná-las a comerem dietas mais saudáveis, mais frutas e verduras e beber menos bebidas açucaradas, como refrigerantes.
Outra coisa que eu diria é o local de trabalho. Eles também precisam incentivar as pessoas a se alimentarem de maneira mais saudável. No meu local de trabalho, temos um programa em que podemos fazer atividades físicas todos os dias. Se tivermos funcionários saudáveis, acho que a condição de saúde é melhor, as perdas devido a doenças serão reduzidas e a produtividade deverá ser maior. [saiba aqui como as empresas podem melhorar a qualidade de vida dos funcionários]
Uma pesquisa do Ministério da Saúde no Brasil mostrou um aumento de mais de 67% no número de obesos entre 2006 e 2018. Essa é uma tendência global também. Você acha que as pessoas estão fazendo escolhas erradas quando se trata de alimentação?
Isso é um pouco difícil de explicar só por esses dados, mas se esses obesos também forem desnutridos, acho que isso também é a dupla carga da má nutrição [entenda mais aqui]. Acho que alimentos altamente calóricos e com alto teor de gordura se tornam super baratos, então a acessibilidade seria mais alta. Assim, as pessoas pobres provavelmente escolhem o que cabe no estômago, que é alto carboidrato, alto teor de gordura, baixo teor de frutas e vegetais. E provavelmente baixa proteína também.
Quais são os maiores desafios para um boa alimentação e quais estratégias poderiam ser adotadas?
Para mim, não existe uma abordagem única para toda a população. Precisamos adotar uma abordagem diferente para cada pessoa porque a exigência nutricional é individual. Mas você pode fornecer orientação de alto nível. Em geral, eu diria que comer de forma saudável, consumir pelo menos cinco porções de frutas e verduras [por dia] e beber uma boa quantidade de água, não apenas refrigerantes ou sucos. As pessoas podem se concentrar no que seus avós usam para cozinhar. A maioria da alimentação tradicional é baseada em vegetais, botânicos e especiarias. Devemos pegar essa tradição.