Fake no futebol
Bola pune clube com medo e sem apetite de vencedor
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emVirtude dos fracos, a covardia é a pior, a mais pesada e a mais vergonhosa carga que o ser humano pode carregar. Os covardes morrem várias vezes antes de sua morte. Às vezes, eles anunciam a própria morte. Que me perdoem os botafoguenses de raiz, mas o título que vocês deixaram escorrer das mãos deve ser creditado exclusivamente à falta de coragem e apetite de alguns dos jogadores do clube da estrela solitária. Tudo bem que a norma do futebol de hoje é não jogar. Atrasar a bola para o goleiro e cair cinco, dez, 15, 20 vezes a partir dos 30 minutos do segundo tempo virou regra para a maioria das equipes brasileiras que estão vencendo a partida. Depois do podrão Neymar Junior, coletivamente o Botafogo é o campeão do cai-cai.
Não sei – tomara que não – se as contusões fakes têm a conivência dos técnicos e dos dirigentes. Se tiver, melhor transformarem os estádios nacionais em circos e teatros ao ar livre. Aí a palhaçada se tornaria oficial. O torcedor que paga ingressos caríssimos não merece assistir a essa desonesta e chata orgia futebolística. O time que está ganhando não consegue respeitar a máxima do futebol, que é atacar para se defender. Sei que o fim da vantagem do Glorioso decorre em parte do mau desempenho dos jogadores no segundo tempo das partidas. No entanto, nada me impede de culpar o excesso de firulas antidesportivas dos atletas pelo fiasco do segundo turno do Brasileirão.
Infelizmente, também sei que o fenômeno das contusões simuladas está em todos os clubes do futebol brasileiro. Se querem saber, é um vexame mundial o que se passa nas canchas do Brasil. Falo mais especificamente do Botafogo, pois, embora seja torcedor rubro-negro, era simpático ao título em homenagem aos fantasmas de General Severiano. Repito que era. O lendário Nilton Santos, jogador de tantas glórias alvinegras e que dá nome ao estádio do Engenho de Dentro, deve se virar no túmulo a cada queda do goleiro Lucas Perri ou dos atacantes do clube. O resultado? Seis rodadas sem vencer, incluindo duas viradas por 4 a 3.
Como a bola pune, o Botafogo, depois de 13 pontos à frente do segundo colocado, deixou escapar a dianteira e, a menos que os deuses do futebol estejam em sono profundo, perderá um campeonato ganho e que não vence desde 1995. No domingo, o gol de empate do Bragantino ocorreu no último minuto dos acréscimos, após quatro embromações seguidas de Lucas Ferri. Se a ideia era ganhar tempo, perdeu feio. Para quem já teve 90% de chances de ser campeão, agora se tiver um tiquinho é muito. Uma pena, mas tudo indica que o jejum continuará. Talvez a única chance de reversão seja convocar a cantora Alanis Morissete para técnica. Afinal, se o Botafogo já morreu seis vezes, Alanis morre sete. Portanto, ele ainda tem uma vida para mais cinco rodadas do campeonato.
Botafogadas à parte, como amante inveterado do futebol e repórter esportivo por longos anos, reitero que sempre soube que, no futebol e no boxe, a melhor defesa é o ataque. Achei até que, ganhando fortunas sem nada jogar, os jogadores do século XXI se transformariam em vikings atrás da pelota. Ledo engano. Não passam de mercenários em busca de tesouros imerecidos. Mesmo pernas de pau, a maioria enriqueceu empobrecendo o chamado esporte bretão. Tentando enganar juízes, torcedores e a eles mesmos, boa parte dos jogadores de hoje lembra os lutadores de Telecatch, programa dos anos 70, dedicado à exibição de embates de luta-livre e que combinava encenação teatral, combate e circo. Pelo menos na época o futebol era jogado sem cenas cômicas.
Com todo respeito aos amigos botafoguenses, incorporo o espírito do tricolor Nelson Rodrigues para ratificar que, muitas vezes, a falta de caráter decide uma partida. Não torcerei mais pelo Botafogo, principalmente porque, graças às firulas de seus atletas de ponta, o Glorioso acabou colocando o Palmeiras e o Flamengo na briga. Em sentido contrário aos patriotas de araque, sou do povo e, como tal, flamenguista até debaixo d’água. Aliás, deixar o Mengão de fora de uma decisão me faz lembrar novamente de Nelson Rodrigues, para quem o sujeito que não for Flamengo pelo menos um dia não viveu. “O Flamengo é uma força da natureza. Quando o Flamengo espirra, o futebol brasileiro fica resfriado”. Quanto ao Fogão, cujo craque tem preferido chutar com o pé que está mais à mão, digo apenas que o time chegou à beira do precipício, mas tomou a decisão correta: deu um passo à frente.