O PL (que concentra o bolsonarismo-raiz), o Novo (do mineiro Romeu Zema) e pequenas parcelas do Republicanos (do paulista Tarcísio Freitas) e dos tucanos de Eduardo Leite (Rio Grande do Sul) estão preparando um discurso unificado para empregarem nas eleições municipais de outubro: vitimização. A ideia é vender ao eleitor uma ação de caça às bruxas promovida por Lula ‘em conluio’ com o Supremo e o Tribunal Superior Eleitoral.
Esse quadro vai ganhar cores mais nítidas à medida em que os golpistas do 8 de janeiro de 2023 vão sendo condenados por seus atos terroristas. E deve piorar mesmo com uma, embora improvável, prisão de Jair Bolsonaro. O argumento maior será o de que Lula está ‘se vingando’ do golpe sofrido na Lava Jato, quando amargou 580 dias em uma cela da Polícia Federal em Curitiba.
O presidente, porém, reconhecidamente uma verdadeira raposa política, traça com seus neoaliados Arthur Lira (PP) e Rodrigo Pacheco (PSD) uma teia de aranha para prender o bolsonarismo em um labirinto. Presidentes, respectivamente, da Câmara e do Senado, o deputado e o senador também vivem de olho em seus galinheiros, e entregarão os ovos a Lula em troca de benesses num toma-lá-dá-cá que existe desde a chegada de Cabral ao Brasil.
Portanto, as perspectivas gerais sobre o que acontecerá em um cenário hipotético onde membros do governo Bolsonaro sejam condenados por envolvimento nos eventos golpistas, são as piores possíveis para quem tenta bater de frente com o Palácio do Planalto. E não adiantará promover concentrações de protestos, com discurso de ódio dirigido ao Poder Judiciário e aos congressistas (e muitos governadores) que decidiram virar casaca.
O discurso será mesmo de vitimização, com o pretexto de perseguição política e judicial. Esse, de acordo com aliados mais próximos do ex-presidente, será o modelo seguido na tentativa de mobilizar a boiada que estourou e se perdeu nas mãos de vaqueiros leais a Lula – ou, melhor dizendo, aqueles que defendem interesses que irão garantir sua própria sobrevivência política.
À direita, no sentido de quem desce a Esplanada dos Ministérios em direção à Praça dos Três Poderes, a caneta do ministro Alexandre de Moraes, estará sempre pronta para assinar sentenças. E toda vez que Xandão acionar sua Parker Classic, o impacto negativo na popularidade do bolsonarismo crescerá. São, como se vê, desafios significativos para que Bolsonaro e seus seguidores mantenham uma estabilidade político-emocional, cada vez mais fragilizada.
Quando outubro chegar, o vermelho de rosas primaveris se espalhará por todo o país. Justamente na hora da verdade das urnas, de onde sairão prefeitos e vereadores, montando o leque para as eleições de 2026. Quem estiver do outro lado dificilmente escapará de um nocaute eleitoral. Porque, ninguém se ilude, é certo que as condenações que borbulham do Supremo desencadearão consequências significativas no cenário político brasileiro.
É difícil prever exatamente como esses eventos políticos se desdobrarão. Mas é quase pule de 10 que uma grande aliança está a caminho. Uma parceria que pode ser renovada em 2026. Depois, quando 2030 despontar, será cada qual por si e Deus por todos. Com direito a uma nova virada de casaca.