Teatro sem eco
Bolsonaristas querem impedir investigações da PF. Por quê?
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emAo contrário do que dizem os “patriotas” frustrados, o teatro produzido e armado pela família e por seguidores do ex-presidente Bolsonaro após a incursão da Polícia Federal na casa ocupada pelo clã teve peso zero no cenário da política brasileira de segunda (29) e desta terça (30). Não teve eco. Os gritos dos caçadores que viraram caça não alteraram as vírgulas, circunflexos e pontos finais dos numerosos processos contra a turma que se diz perseguida dia e noite pelo ministro Alexandre de Moraes, relator da maioria das ações com nome e sobrenome Bolsonaro. Para os que viram as costas para normas e leis, a PF, por ordem do ministro do STF, esculachou. Natural que pensem assim.
Anormal seria os que se acham intragavelmente soberanos virem a público para afirmar que o esculacho maior é transformar um órgão público da importância da Agência Brasileira de Informação (Abin) em privada familiar. Perdão pela lembrança fúnebre do 8 de janeiro de 2023, mas a escandalosa utilização do órgão como departamento para interesses pessoais do clã bolsonarista pode ser considerada um segundo golpe contra instituições públicas. O primeiro colocou em xeque os Três Poderes da República e vandalizou bens móveis e imóveis que também pertenciam aos nacionais.
Mais uma vez recorro a meus instintos investigativos para indagar: Do que esse povo medo? Por que a pressa em aprovar um projeto proibindo a entrada de agentes da PF nos gabinetes de parlamentares investigados? A vitimização pública e sem nexo dos acusados seria uma paranoia anunciada? Provavelmente, sim. Partindo do pressuposto popular de que quem não deve não teme, é lamentável que determinados deputados e senadores queiram deliberadamente atrapalhar o trabalho de pessoas cuja intenção maior é passar o Brasil a limpo.
A quem possa interessar, nem os mosquitos da dengue que infestam a Capital acreditam no silêncio inocente dos que, vassalos de uma trupe abjeta e desprezível, espionaram adversários e até aliados convencidos de que, no bom sentido, a Coca-Cola era Fanta. Combater o combate é passar recibo antecipado de culpa. O ex-presidente falar em constrangimento é outro esculacho. Metade mais alguns milhões dos brasileiros não esquecem o que ele fez contra o Brasil e contra o povo que renegou e renega seus métodos tirânicos.
Esculacho é sorrir e soltar fogos quando a polícia chega às periferias das grandes cidades atirando, matando e esculhambando, principalmente pobres e negros. Não me lembro de lives ou de manifestações com críticas à vexaminosa e obscena atuação da maioria das polícias militares do Brasil, boa parte delas impregnada de dóceis súditos da tirania proposta pelo clã. Por fim, as imagens que varreram o mundo são claras. Por parte dos agentes da PF, sobrou discrição e não faltou respeito a qualquer membro da família. Se o que eles queriam era a repetição da submissão, perderam a viagem. Os tempos são outros.
Queiram ou não os “patriotas”, as mãos que comandam o país podem não ter todos os dedos, mas, por enquanto, têm o que todos esperam de um líder: credibilidade adquirida, postura de mandatário, subordinação às leis, reverência internacional, entendimento democrático e cumprimento tácito e respeitoso do bem maior de uma nação: a liberdade. Portanto, resta aos maus perdedores a catastrófica sina de sacudir a poeira, coçar o que um dia imaginaram roxo e falar mal daquilo que está sendo feito porque tiveram a oportunidade, mas não souberam ou não quiseram fazer.
Armando Cardoso é presidente do Conselho Editorial de Notibras