Eles não sabem o que dizem
Bolsonaristas temem a verdade como Diabo a cruz
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emImaginemos um prédio construído sobre a areia do mar, sem alicerce e com paredes de gesso. Inclinará ao primeiro vento mais forte e dificilmente permanecerá de pé à segunda onda mais violenta. É o retrato mais puro e real do atual governo brasileiro. As ameaças pululam quando avaliamos negativamente a administração de Jair Messias Bolsonaro. Na minha insignificância política, a prática de se manifestar, contra ou a favor, pode ser denominada democracia. E a liberdade constitucional de expressão, um bem inalienável. Nada contra ou pouca coisa a favor do cidadão, mas, até agora, dois anos e quatro meses depois da posse, quantos e quais projetos de interesse do povo já foram apresentados e aprovados pelo presidente da República?
A compra atrasada de vacinas, antecipação do 13º. dos aposentados e pensionistas e o pagamento do auxílio emergencial são relevantes, mas, em momentos de grave crise sanitária, acaba sendo obrigação. Qualquer governante cego, surdo e mudo faria o mesmo. O problema é o que foi prometido e deixou de ser produzido ou vem sendo feito de forma atrapalhada. Sobram teorias da conspiração, negacionismos, mediocridade na política externa (cujo desfecho é o descrédito internacional e o isolamento planetário), esquecimento do meio ambiente e “guerra” mesquinha contra supostos adversários, e faltam combate preciso e oportuno à Covid-19, apoio aos governadores e profissionais que enfrentam a doença de frente, respeito às normas da ciência e ao povo que quer viver e, principalmente, solidariedade às famílias que, somadas, já perderam 380 mil entes queridos.
Mais surreal do que tirar as mazelas debaixo do tapete é não poder torná-las públicas, sob pena de uma enxurrada de ameaças, xingamentos e adjetivações do próprio presidente da República, de seus filhos e de apoiadores mais radicais e subservientes. Eles não sabem o que dizem, mas rotulam de sectários e maniqueístas todos aqueles que se arriscam a uma posição contrária. Traduzindo as duas terminologias, ambas vinculadas a seitas, sectarismo (comportamento de quem é intolerante) e maniqueísmo (filosofia que só consegue compreender o bem ou o mal de modo absoluto) parecem se aplicar justamente aos mais raivosos, aos que se fantasiam de patriotas para pregar o golpe e o fechamento de instituições, entre elas o Supremo e o Congresso, impor o voto impresso, acabar com a Floresta Amazônica, matar os que temem o vírus e dizimar opositores.
Incrível, mas, para esse grupo que ama odiar opositores, fora da realidade são os questionadores de inverdades lidas em rede para 40 líderes de nações mais ricas, os que concordam com o general Rego Barros, ex-porta-voz, sobre a ausência de um vice-presidente eleito na Cúpula do Clima e os que criticam o fato de, no dia seguinte à promessa de dobrar investimentos para controlar o desflorestamento, o presidente anuncia um corte de R$ 240 milhões para o setor. Alguma coisa deve estar fora da curva. Para eles, permitido é odiar quem defende as leis, ainda que elas sejam ultrapassadas, insuflar incautos, estimular a violência, promover os ignorantes a sábios e fazer apologia ao golpe.
Uso a liberdade de expressão exclusivamente para criticar malfeitos e cobrar bons feitos, jamais para atacar ou ofender aqueles pelos quais não consigo ter afeição. Estou a cavalheiro. Durmo em paz, com a consciência tranquila e certo de que não sou sectário, maniqueísta, muito menos adoto o modus parasitário. Contribuo com o mundo, embora não tenha contribuído para eleger um servidor que idiotiza, que sente orgasmos ao denominar semelhantes de idiotas e que não admite o contraditório. Não confundo servir com servir-me. Sou do bem, não vivo no aguardo de expectativas alheias. Estudei e, portanto, busco as minhas. Temo apenas os que se confundem com as palavras, transformando-as em desnecessários torpedos. É triste, mas não nutro qualquer sentimento por quem não sabe nem o que diz.