A cada pesquisa eleitoral que é divulgada, aponta-se mais para um embate de extremos no segundo turno. De um lado, a direita de Jair Bolsonaro (PSL). De outro, a esquerda petista de Fernando Haddad. E o mercado dá sinais claros de que, se a disputa é essa, seu lado será o da direita.
Essa preferência é notada nos números do dólar e da Bolsa. Pesquisas mostrando a subida de Bolsonaro nas intenções de voto têm tido o pendão de fazer a Bolsa subir e o dólar cair. Embora isso não queira dizer que o candidato do PSL represente o sonho do mercado financeiro, que sempre preferiu alguém mais de centro – como Geraldo Alckmin (PSDB). Mas o inimaginável, para esse setor, seria a volta da gestão petista.
“No cenário que temos hoje, é impossível cravar qualquer resultado, mas os preços refletem as probabilidades”, diz Luiz Fernando Figueiredo, sócio da Mauá Capital e ex-diretor de Política Monetária do Banco Central. “E é sempre importante lembrar que não estamos falando de uma situação de tranquilidade na economia para o próximo presidente.”
A grande questão, diz, é que, de um lado há um candidato, do PT, que não está dizendo claramente que é preciso resolver a questão fiscal, de um partido que não assume que o País tem um grave problema. “De outro, os economistas de todos os outros candidatos admitem que há um problema. O mercado considera que um governo petista seria pior.”
Figueiredo avalia que os economistas ligados ao PT têm dificuldade em reconhecer que o País tem um problema. “Não é uma questão de apoiar uma proposta liberal. Depois, a gente pode e deve discutir as outras propostas dos candidatos, mas o principal agora é manter o País respirando.”
Para a economista-chefe da Rosenberg, Thais Zara, dadas as grandes diferenças entre os dois programas de governo – o de Bolsonaro com um tom mais liberal, falando em reformas e ajuste fiscal, e o do PT, que não toca em questões estruturais, como a reforma da Previdência –, o mercado acaba se sentindo mais próximo de Bolsonaro. “As sinalizações antidemocráticas de Bolsonaro pesam menos que a agenda econômica.”
“O mercado vê com bons olhos o encaminhamento de reformas que um eventual governo Bolsonaro sugere e, principalmente, quer se afastar da forma de gestão dos governos do PT”, diz André Perfeito, economista-chefe da Spinelli. Mas ele afirma, no entanto, que a agenda proposta por Paulo Guedes – que prevê, por exemplo, privatizações em massa – seria difícil de ser executada.
“A proposta de privatizações massivas é de difícil execução. Em alguns setores, como o elétrico, é até viável. Mas nada no nível proposto por Guedes.” O economista de Bolsonaro calcula em cerca de R$ 1 trilhão os ativos a serem privatizados.
Um dos temores é que o passado de posições intervencionistas do deputado Bolsonaro se choque com a agenda de Guedes. “Ainda assim, mesmo parecendo que ele teria um mandato conturbado, o mercado deixa para discutir o dia seguinte à eleição depois”, diz Perfeito.
Apesar de o ex-prefeito de São Paulo ser tido como um candidato mais palatável do que Lula, como a candidatura Haddad tem feito um vínculo direto com o ex-presidente, a vitória petista em um primeiro momento é considerada mais preocupante que a da direita.
“Em um primeiro momento, o mercado comemoraria a vitória de Bolsonaro, pela agenda liberal. Ao longo do governo, porém, poderia haver uma ressaca dessa empolgação. As dificuldades para implementar essa agenda apareceriam e o mercado ficaria novamente estressado”, avalia a economista da Tendências Alessandra Ribeiro. Ela diz acreditar que o investidor não embarca tomado de otimismo na candidatura Bolsonaro, mas tenta medir qual opção é a “menos pior”.
Com Haddad no Planalto, diz Alessandra, o movimento seria inverso: o mercado reagiria mal no primeiro momento, mas poderia afastar parte dos temores, caso o PT implementasse uma política mais pragmática, com algum tipo de reforma da Previdência e um ajuste fiscal.