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Maior colégio eleitoral

Bolsonaro conquista malufistas e atropela Alckmin em São Paulo

Publicado

Autor/Imagem:
Marcelo Godoy e José Maria Tomazela

A candidatura do deputado federal Jair Bolsonaro (PSL) à Presidência da República encontrou em São Paulo a recepção de um eleitor que se identifica com o discurso e os valores associados ao ex-governador Paulo Maluf (PP). Essa é a opinião de analistas políticos. O deputado lidera as pesquisas de intenção de voto no maior colégio eleitoral do País (22%), no cenário que exclui o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), condenado e preso pela Lava Jato, e recebe ainda o apoio de políticos-símbolo do malufismo.

A identificação de Bolsonaro com parte do eleitorado paulista produziu um fenômeno nesta campanha: o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) é o único dos candidatos ao Planalto mais bem colocados nas pesquisas a ter um desempenho fraco em seu próprio Estado (16%). Bolsonaro é para os analistas a reedição do neopopulismo de direita, fenômeno caracterizado por lideranças carismáticas surgidas nos anos 1980 e 1990 com o confronto entre a cultura democrática e a autoritária com o fim de ditaduras na América do Sul.

Essas lideranças associavam o discurso da força e da ordem à defesa do liberalismo econômico, como Alberto Fujimori, no Peru. Em São Paulo, tal bandeira se resumia em um slogan: “A Rota vai para a rua”. Usado por Maluf, maior expressão dessa corrente no Estado, o discurso unia valores conservadores à defesa da linha dura contra o crime.

“São eleitores que estão capturados por uma liderança que pode ser caracterizada como neopopulista no sentido que não tem muita preocupação com valores democráticos e vai na direção neoliberal pela promessa de desenvolvimento econômico, sem preocupação com o social, como é a promessa de crescimento econômico como a do PT e do PSDB”, disse José Álvaro Moisés, professor do Departamento de Ciência Política da USP.

Em sua passagem pelo interior, Bolsonaro encontrou malufistas como o aposentado Carmelindo Gonçalves de Aguiar, de 82 anos. “Ele (Maluf) está no fim da carreira agora, mas fez muito por esse Estado”. Aguiar foi ver Bolsonaro em Barretos. “Vou votar nele. Quando ele fala que lugar de bandido é na cadeia, está certo.” O vendedor autônomo Lauro Alves de Andrade, de 57, era malufista, agora é Bolsonaro. “Quando trabalhava em São Paulo, o Maluf colocava a Rota para pôr ordem na cidade. Se roubou, pelo menos fez. Tem gente que não faz e rouba”, disse, após tirar foto com Bolsonaro.

Neste ano – e pela segunda vez desde 1986 –, Maluf estará ausente das urnas, após ser preso e ter o mandato de deputado cassado. Mas o tema segurança predomina nos debates entre os candidatos a governador. Dois deles têm vices oficiais da PM: Paulo Skaf (MDB) e Márcio França (PSB). E um promete levar a Rota para o interior: João Doria (PSDB).

Símbolo do discurso da segurança, o vereador paulistano Conte Lopes (PP) apoia Bolsonaro apesar de seu partido estar com Alckmin. “O eleitor vê no Bolsonaro o que eu sempre fiz na vida: combater o crime. O povo está cansado de quem passa a mão na cabeça de bandido.” Conte era presença constante nas carreatas de Maluf. Seu correligionário – o deputado estadual Coronel Telhada (PP) – também apoia Bolsonaro. “A maioria dos eleitores do Bolsonaro é de jovens que nunca votaram no Maluf, mas tem os mesmos ideais.”

Telhada e Conte chegaram a apoiar os governos dos tucanos José Serra e Alckmin e representam parte desse eleitorado que desde o declínio de Maluf, nos anos 2000, passou a votar no PSDB. “Muito mais contra o PT do que a favor do PSDB. Agora, esses eleitores encontraram um candidato mais condizente com sua concepção de sociedade”, disse o cientista político Marco Antonio Teixeira, da FGV. Para ele, o crescimento do voto evangélico também explicaria a força de Bolsonaro. Em 2000, 17% da população paulista era evangélica, segundo o IBGE. Em 2018, segundo o Ibope, 29%.

Moisés acredita que esse apoio pode ainda ser explicado pela permanência na população de valores autoritários. Desde a década de 1980 até 2016, o professor fez pesquisas sobre o apoio à democracia e à ditadura no eleitorado. “Quem dizia preferir a ditadura somava cerca de 15%.” Um número não distante do apoio a Bolsonaro no Estado.

Dados – Por fim, os governos tucanos têm na segurança indicadores positivos desde 2001, como a queda de mais de 70% dos homicídios no Estado. “Mas a sensação de segurança é mais afetada pelo índice de roubos do que pelo de homicídios, pois as pessoas sabem que correm mais risco de ser roubadas do que mortas”, disse o pesquisador Túlio Kahn. Aqui, os números não favorecem Alckmin. No primeiro semestre de 2010, quando disputou o governo, São Paulo havia registrado 116.882 roubos, ante 132.454 no mesmo período deste ano.

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